Raphael Di Cunto – Valor Econômico
BRASÍLIA - Candidato à presidência da Câmara dos Deputados, o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), afirmou ontem que não concorre como candidato de oposição, mas que o governo não deve interferir na eleição do Legislativo sob o risco de causar atritos futuros. "Quando o governo se intromete, assume o ônus das sequelas", afirmou.
Em almoço com deputados do Solidariedade (SD), o pemedebista subiu o tom contra o Executivo, que nos bastidores articula a eleição de outro candidato, do PT ou da base aliada, para derrotá-lo. "Querendo ou não querendo, o PMDB é um partido da base. Querendo ou não querendo, sou o líder do partido. Então à medida que o governo se intromete, não está se intrometendo contra uma candidatura, está contra toda a bancada do PMDB", disse.
Cunha discordou do Palácio do Planalto em projetos sensíveis desta legislatura, como a medida provisória (MP) dos portos e o marco civil da internet, e liderou rebeliões contra as propostas do governo. O desentendimento chegou até ao vice-presidente da República, e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, que tem demonstrado publicamente desconforto com a possibilidade de o aliado ser eleito com apoio da oposição.
No almoço, parte do esforço para consolidar o apoio dos partidos do "blocão", o líder do PMDB respondeu a perguntas dos deputados por pouco mais de uma hora, prometeu não travar a tramitação de projetos e pregou a independência dos poderes. "Queremos o equilíbrio para que a Câmara não seja governista a ponto de ser submissa nem que vire palanque para a oposição que inviabilize o país", afirmou.
O blocão é um grupo informal criado no começo do ano para pressionar a presidente Dilma Rousseff na reforma ministerial. O governo atendeu parte dos pedidos e desidratou o grupo, em que restam PR, PSC, SD, PTB e PMDB. Na semana passada, os líderes destes partidos, que elegeram juntos 152 deputados, aderiram à candidatura de Cunha para a presidência da Câmara, e agora consultam suas bancadas para confirmar o apoio.
O governo avalia que é possível reverter o apoio do PR. O líder da bancada, Bernardo Santana (MG), não tentou a reeleição e por isso não terá mandato em 2015, quando ocorrerá a eleição, e a bancada da sigla no Rio de Janeiro, que tem seis dos 34 deputados eleitos, é ligada ao ex-governador Anthony Garotinho, adversário regional do pemedebista. Além disso, o PR ocupa hoje o Ministério dos Transportes e espera continuar com o posto no próximo mandato.
Aliados de Cunha afirmam, contudo, que o apoio já está selado com consentimento do principal líder do PR, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que mesmo enquanto estava preso - foi liberado ontem -, continuava a dar as cartas no partido. A pressão do governo também teria pouco efeito, dizem, porque o voto para presidente da Câmara é secreto.
O grupo do pemedebista aposta na rejeição ao PT para elegê-lo. Entendem que há um desgaste dos petistas devido à defesa intransigente do governo, que é bastante criticado pela falta de diálogo com o Legislativo, e que a postura mais independente de Cunha levará a oposição a desistir de lançar candidato próprio para apoiá-lo.
O PT, por sua vez, aguarda a reforma ministerial para fortalecer uma candidatura própria ou de outro partido da base. "O Eduardo Cunha não é imbatível. Assim como já ganhou votações, também já perdeu em tantas outras", afirma o deputado Pepe Vargas (PT-RS), ex-ministro do Desenvolvimento Agrário. "A Casa tem que ser independente, mas harmônica com o Executivo. Uma candidatura construída no confronto com o governo causa instabilidade", diz.
A bancada petista se reunirá amanhã com os deputados eleitos para decidir a postura no próximo governo da presidente Dilma e discutir um candidato de consenso no partido. Os mais citados no momento são os ex-presidentes da Câmara Marco Maia (RS) e Arlindo Chinaglia (SP), e do líder e vice-líder do governo, Henrique Fontana (RS) e José Guimarães (CE), mas todos já tiveram desgastes com os partidos aliados.
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