• Nova alta da taxa Selic decorre de problemas criados por inconsistências da política econômica do primeiro mandato de Dilma
É inevitável o desalento diante da decisão do Banco Central de elevar mais uma vez a taxa básica de juros da economia, a Selic.
Não que o aumento seja descabido na atual conjuntura. A inflação ainda gravita em torno de 6,5%, e um dos problemas dos últimos anos foi justamente a falta de compromisso do BC em manter o índice no centro da meta (4,5%).
Se juros maiores costumam ser recomendados no combate ao vício da alta de preços, parece razoável supor que a Selic nem estacionará no novo patamar, 11,75%. A continuar o ciclo de aperto, a taxa atingirá pelo menos 12,5% nos próximos meses, cerca de seis pontos percentuais acima da inflação.
Ou seja, duas décadas depois da estabilização da moeda nacional, o Brasil se vê obrigado a conviver com juros escorchantes. Como consequência, o país sofre com a acentuada perda de dinamismo econômico, um custo maior do que seria necessário se tivesse havido disciplina na gestão monetária.
A questão de fundo, porém, abarca toda a inconsistente política econômica do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).
Para começar, não houve coordenação entre a política monetária e a administração do Orçamento. Enquanto o BC pisava timidamente no freio, a Fazenda acelerava o gasto e o crédito público. Sem falar na coleção de intervenções setoriais atabalhoadas, que fez colapsar a confiança empresarial.
Ensaia-se agora uma estratégia com a nova equipe econômica --ainda não empossada, mas já trabalhando no Planalto. A própria disposição do BC para agir com contundência e demonstrar autonomia é um aspecto relevante.
Criar condições para que o país chegue a níveis civilizados de juros demandará mais do que isso, contudo. A ação mais importante será resgatar a credibilidade das contas públicas. A tarefa exige medidas impopulares, como cortes de gastos e aumentos de impostos.
Ministro da Fazenda anunciado, Joaquim Levy pretende obter saldos melhores no balanço de receitas e despesas, com o propósito de estabilizar a dívida pública bruta. O ajuste ainda implicaria restrições de repasses do Tesouro a bancos públicos e, talvez, fixação de limites para a expansão dos gastos.
Nesta semana, Dilma afirmou que dará respaldo a essas iniciativas --se bem que o fez por meio de uma carta lida pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em evento para investidores.
Permanece incerto, de todo modo, seu interesse em persistir nesse rumo pelo tempo necessário. É uma dúvida legítima, tendo em vista que a presidente prometera as mesmas coisas em 2010, antes de embarcar no experimento que levou o país à difícil situação atual.
Ironicamente, a própria dificuldade torna menos prováveis novas aventuras dessa natureza; qualquer deslize será percebido com mais velocidade pela população.
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