Despedida emocionada
• Após quatro mandatos de oito anos, Pedro Simon faz discurso de 4h30m e diz adeus ao Senado cobrando o fim da corrupção e da impunidade
Cristiane Jungblut – O Globo
Sem descer da tribuna, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez ontem um discurso de 4h30m para se despedir do Senado e de seus mais de 60 anos de vida pública. Emocionado e sem conter o choro, ele destacou a atuação do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa no julgamento do mensalão e do juiz federal Sérgio Moro, no caso da Operação Lava-Jato. O senador gaúcho disse que os dois foram "abnegados" na luta contra a corrupção, e afirmou que ainda sonha com a ética na política.
Além disso, citou os escândalos da Petrobras e ressaltou que eles são "como uma punhalada traiçoeira em quem tem, de fato, coração valente", numa alusão à presidente Dilma Rousseff.
Ao longo de seu discurso, Simon foi aplaudido diversas vezes e não conseguiu conter o choro. Ele completará 85 anos em 31 de janeiro, dia em que chega ao fim seu quarto mandato de oito anos - os últimos três consecutivos. Simon ficou na tribuna das 14h50m às 19h16m e, ao final, ganhou de presente dos senadores e funcionários uma réplica do microfone que tanto usou.
No plenário, estavam presentes sua mulher, Ivete, os dois filhos e a neta. Todo assistiram às dezenas de apartes que foram feitas por diversos parlamentares em sua homenagem.
Em seu longo discurso, Simon citou São Francisco e chegou fazer uma adaptação da oração dele. Em seguida, recitou versos dos poetas Mário Quintana, seu conterrâneo, e do chileno Pablo Neruda.
- Bem-aventurado Joaquim Barbosa! Bem-aventurado Sérgio Moro! Bem-aventurados todos aqueles que, abnegados, gritam e lutam contra a corrupção e contra a impunidade! Bem-aventurados os que, apostolados, empunham a bandeira da ética na política. Bem-aventurados sejam todos os que, por meio de assinaturas e da pressão sobre o Congresso Nacional, alcançaram êxito na aprovação da Lei da Ficha Limpa - disse Simon, repetindo o movimento de braços que sempre marcou seus discursos.
"votar sem ser votado"
Para o parlamentar, o STF deu "um enorme passo" ao combater o que ele diz sempre ter defendido como sendo "o maior de todos os males brasileiros: a impunidade". Em suas palavras: "o julgamento do mensalão pode ter sido um divisor de águas".
Depois de lembrar suas origens, o deputado gaúcho falou sobre o futuro:
- Em seis décadas, vou experimentar, pela primeira vez, uma vida sem o meu nome nas urnas. Votar, sem ser votado. Escolher, sem ser escolhido. No meu primeiro minuto daquele dia (31 de janeiro), terei 85 anos e minha querida neta Isabela, presente de Deus que veio ao mundo exatamente no dia do meu aniversário, completará três anos - enfatizou Simon, emocionado: - Quis Deus que a minha presença nos acontecimentos mais importantes da História de nosso país acontecesse. Foram seis décadas de vida pública. Saio daqui como entrei: ainda um aprendiz.
Simon foi, então, aplaudido de pé.
Neste ano, ele enfrentou o desgaste de ter uma derrota avassaladora no Rio Grande do Sul. Simon havia desistido de disputar eleição, mas voltou atrás quando o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) foi alçado a vice na chapa de Marina Silva (PSB) à Presidência da República.
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