• Ameaça de criação de CPI para investigar setor elétrico preocupa o Planalto
• Presidentes da Câmara e do Senado acusam a gestão de influenciar na decisão de incluí-los em investigações
Andréia Sadi, Júlia Borba – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Em meio a uma guerra aberta com o comando peemedebista do Congresso e sob ameaça de novas retaliações com uma CPI no setor elétrico, o Palácio do Planalto decidiu ignorar os ataques de Eduardo Cunha e Renan Calheiros para tentar refazer as pontes com os dois caciques.
A prioridade, definida em reunião da presidente Dilma Rousseff com ministros neste domingo (8), é tentar salvar as medidas de ajuste fiscal que necessitam de aprovação no Congresso.
Incluídos no rol de investigados da Operação Lava Jato, os presidentes da Câmara, Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan (PMDB-AL), acusaram o governo de ter influenciado na decisão da Procuradoria-Geral da República de pedir inquéritos contra eles. O Planalto e a PGR negam.
Para tentar a reaproximação, Dilma escalou Aloizio Mercadante (Casa Civil) para procurar Cunha e Renan. Já ela irá reunir-se com o vice, Michel Temer (PMDB), nesta segunda (9). Joaquim Levy (Fazenda), deve participar.
À tarde Dilma recebe líderes aliados do Senado.
Dependem do Congresso a aprovação de novas regras para concessão do seguro-desemprego, do abono salarial, da pensão por morte e a desoneração da folha.
Renan e Cunha já vinham infligindo derrotas a Dilma, como a aprovação da PEC da Bengala (que na prática pode tirar dela poder para indicar mais ministros ao Supremo) e a devolução da medida provisória da desoneração, reenviada como projeto de lei.
Na quarta (11), está prevista a derrubada pelo Congresso do veto ao reajuste de 6,5% do Imposto Renda. Se o veto cair, as pessoas pagarão menos imposto e o governo perderá R$ 7 bilhões em receitas.
Dor de cabeça ainda maior está à espreita: a Câmara poderá abrir uma CPI para investigar o setor elétrico, "quintal" de Dilma, ex-ministra das Minas e Energia.
A justificativa para a CPI, articulada pela oposição, são os apagões e a política para a definição das tarifas de energia. Sua instalação depende da análise de um parecer de técnicos da Casa, que já recomendaram a rejeição por ausência de objetivo específico.
No entanto, parlamentares da base aliada dizem que novas delações da Lava Jato, como a de executivos da empreiteira Camargo Corrêa que citaram propinas na usina de Belo Monte, podem criar o fato determinado necessário.
Sem decisão
Procurado, Cunha disse à Folha que ainda não tomou decisão sobre o assunto.
O novo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), admite que as denúncias devem atingir a sua pasta, mas afirma que não cruzaria os braços diante das irregularidades. O ministro ainda não reformulou a sua equipe e manteve os indicados pelo antecessor Edison Lobão (PMDB-MA), também investigado na Lava Jato.
Segundo a Folha apurou, Eduardo Braga deve fazer substituições em postos-chave do ministério.
Ele disse a interlocutores que estuda, inclusive, nomear como secretário-executivo o atual diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci --que também teve pedido de investigação feito pela Procuradoria.
A empresa é controlada pela Eletrobras. Hoje, o número dois de Minas e Energia é Márcio Zimmermann, homem de confiança de Dilma.
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