• Sob o comando do PMDB, Senado e Câmara devem impor novas derrotas ao governo
Daiene Cardoso, Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A divulgação da lista de 34 parlamentares investigados sob suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás agravou ainda mais a já combalida relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Base aliada e oposição preveem uma temporada de derrotas significativas para o governo já a partir desta semana, quando serão apreciados os vetos presidenciais e projetos polêmicos, como a política de reajuste do salário mínimo.
Os parlamentares acusam o governo de tentar transferir para o Congresso a crise política provocada pela Operação Lava Jato. Alguns, entre eles o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspeito de receber do esquema, acusam o Planalto de interferir diretamente na lista encaminhada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. “Essas digitais do governo são visíveis. Não dá para não perceber isso”, diz o vice-líder do PMDB na Câmara, Manoel Júnior (PB).
No PMDB, partido do presidente da Câmara e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) – que também está na lista de suspeitos –, a insatisfação é generalizada. “O governo, para sair do olho do furacão, está jogando tudo para o Congresso. Ninguém vai aceitar isso”, diz Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
O peemedebista prevê que a CPI da Petrobrás, comandada por seu partido, pode aprovar novos requerimentos de convocação, prejudicando o governo. Ele também acredita que o ministro Cid Gomes (Educação) enfrentará ainda mais dificuldade ao comparecer à Câmara nesta quarta-feira para se explicar por ter dito que a Casa tem “de 300 a 400 achacadores”.
“Os indícios de uma estratégia do governo são muito claros. O Congresso está identificando isso. Ninguém está satisfeito. A tendência é o Congresso demonstrar ao Planalto, à presidente, que essa estratégia de tentar colocar todo mundo na vala comum, não está dando certo”, afirmou Vieira Lima.
Oposição. Na avaliação dos parlamentares de oposição, o governo deve perder o controle sobre a situação no Congresso. Lembram que as investigações estão apenas no início e a expectativa é de que a lista dos investigados crescerá com a divulgação das novas delações premiadas. “Isso é só o trailer de um filme de terror que será exibido nos próximos meses”, diz o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Na primeira semana após a divulgação da lista, senadores e deputados apreciarão vetos presidenciais, entre os quais o da correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. O governo atua para evitar essa votação, mas alguns parlamentares dão como certa a derrubada do veto.
Se no Senado a pauta ainda é uma surpresa, na Câmara, Cunha quer votar o projeto que mantém os critérios atuais de reajuste do salário mínimo e os estende para corrigir aposentadorias. A oposição acusa o Executivo de não dizer claramente qual correção a União suportaria bancar e de jogar para o Congresso o ônus de medidas indigestas, como do pacote de ajuste fiscal, que nem começaram a ser discutidas oficialmente nas comissões especiais. “É um momento bastante grave”, diz o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), comparando o atual cenário político com o período pré-impeachment de Fernando Collor e o estouro do escândalo do mensalão.
Outra resposta que o presidente da Câmara pode dar ao governo é atender ao pedido da oposição e criar uma CPI para investigar a crise do setor elétrico. Cunha diz ainda não ter examinado a questão e que sua resposta não se dará “através de ações desta natureza”. “Vou agir como sempre, com independência e harmonia”, diz. Mas, apesar do tom ameno, avisa: “Farei o que tiver de ser feito na hora correta”.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), diz que a reunião que terá com líderes da base, amanhã, servirá para avaliar os estragos provocados pela lista na relação com os aliados. “A priori (a situação) não complica nem descomplica. Tem que aguardar”, afirma.
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