Tudo isso está ocorrendo num cenário de total descrença em relação à classe política, especialmente depois das recentes revelações do envolvimento de parlamentares com a corrupção.
A presidente Dilma Rousseff aproveitou o seu pronunciamento pelo Dia Internacional da Mulher, ontem, para reafirmar o compromisso do governo com o ajuste fiscal e para justificar medidas que contrariam seus discursos de campanha. Sua fala à nação inaugura uma semana decisiva para o país, que atravessa o momento mais agudo da atual crise econômico-político-institucional. Vários fatores convergem para que os próximos dias sejam turbulentos, a começar por duas manifestações de rua que estão sendo chamadas pelas redes sociais: uma, com a assinatura da Central Única dos Trabalhadores, no dia 13, em defesa da Petrobras mas contra medidas recentes do governo que reduzem benefícios de trabalhadores; outra para o próximo domingo, dia 15, programada por setores indignados com a corrução e com a deterioração da economia, além de grupos minoritários que defendem o impeachment da presidente.
Tudo isso está ocorrendo num cenário de total descrença em relação à classe política, especialmente depois das recentes revelações do envolvimento de parlamentares e autoridades com o escândalo de corrupção na Petrobras. O Poder Legislativo declarou guerra ao Executivo, pois suas principais lideranças – o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha – acusam abertamente o governo de interferência nas investigações que os indiciaram como suspeitos de ilicitudes. Em represália, ambos vêm adotando medidas contrárias aos interesses do Planalto nas duas casas legislativas, entre as quais a devolução da MP da desoneração tributária da folha de pagamento das empresas e a transformação da CPI da Petrobras num palanque antigoverno, inclusive com a ameaça explícita de investigar a presidente Dilma e o ex-presidente Lula.
Apesar da crise política e de estar sob fogo cerrado, o governo ainda pode – e deve – promover os ajustes necessários para recolocar a economia nos trilhos, evitando que a inflação dispare e que o desemprego assuma proporções incontroláveis. Para isso, é imprescindível que a presidente vá além do discurso, assuma a condição de fiadora do arrocho fiscal, abra um diálogo transparente com a nação e respeite a autonomia das instituições que lutam pela restauração ética da administração pública. Em síntese, que deixe de ser apenas militante partidária e seja efetivamente uma estadista.
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