• Durante pronunciamento, houve protestos em diversas cidades do País
Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff usou o pronunciamento em rede nacional pelo Dia Internacional da Mulher para fazer uma longa defesa ao ajuste fiscal e dizer que a economia do País só deve começar a melhorar a partir do fim do ano. Afirmando que o governo está usando “armas diferentes e mais duras” das que foram utilizadas na primeira fase da crise, em 2008, ela ressaltou que todos terão de fazer “sacrifícios temporários” e arrematou dizendo que são suportáveis porque tem “o povo mais forte do que nunca”.
Durante o pronunciamento – a transmissão começou às 20h40 no horário de Brasília e se estendeu por 16 minutos – houve protestos em diversas cidades do País. Pessoas foram às janelas gritar “Fora Dilma”.
Em São Paulo, xingamentos se misturavam com panelaços em bairros como Higienópolis, Perdizes, Aclimação, Ipiranga, Lapa, Moema, Vila Marina, Mooca e Santana. Também houve protestos em bairros de Brasília e Belo Horizonte, onde os gritos e xingamentos contra a presidente e panelaços se repetiram. Muitos acendiam e apagavam as luzes durante o discurso.
À tarde, grupos favoráveis ao impeachment de Dilma espalharam mensagens por celular convocando o protesto. Nas redes sociais, o grupo Revoltados Online, por exemplo, também fez convocações para o panelaço.
Discurso. No pronunciamento, Dilma deu prazo para o aperto. “Este processo (de ajuste) vai durar o tempo que for necessário para reequilibrar a nossa economia”, afirmou, prevendo os primeiros resultados “já no final do segundo semestre”. Dilma declarou que “a carga negativa”, até agora absorvida pelo governo, agora será dividida “em todos os setores da sociedade”.
O escândalo das suspeitas de corrupção na Petrobrás, que vem monopolizando o noticiário, foi mencionado rapidamente e apenas no fim de sua fala. Ela frisou que a investigação das denúncias de corrupção na estatal é “ampla, livre e rigorosa”. Com isso, buscou responder as acusações que vem sofrendo não só por parte de adversários como de parlamentares da base aliada de que seu governo tenta interferir nas apurações da Operação Lava Jato.
“Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobrás”, afirmou em cadeia de rádio e TV.
O pronunciamento foi gravado na manhã de quinta-feira, um dia antes da publicação da lista de pessoas que serão investigadas por suspeita de corrupção relacionada à petroleira.
Arrocho. No discurso, Dilma passou a maior parte do tempo explicando e defendendo o ajuste fiscal que está sendo implementado no Brasil – que trata do corte de despesas e de investimentos, redução de parte de programas sociais, mudanças nas regras para acesso a benefícios trabalhistas, correção na tabela do imposto de renda. Para executar parte das medidas, o Poder Executivo precisa de aprovação pelo Congresso Nacional, com o qual está passa por uma crise de relacionamento.
A petista classificou como corajosa a decisão de assumir o ajuste fiscal mesmo que isso lhe renda desaprovação. “Decidimos corajosamente mudar de método e buscar soluções mais adequadas ao atual momento. Mesmo que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo.”
Dilma também culpou a seca nas regiões Nordeste e Sudeste e a piora da conjuntura internacional pelo aumento dos custos para os consumidores e as mudanças de rumo em sua gestão econômica. E sugeriu que a imprensa tenta transformar a crise em algo mais grave do que realmente é. “Os noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes. Muitas vezes até nos confundem mais do que nos esclarecem” . afirmou. Retomando a positividade exibida durante sua campanha eleitoral no ano passado, Dilma também viu pessimismo por parte de integrantes da sociedade. “O Brasil passa por um momento diferente do que vivemos nos últimos anos. Mas nem de longe está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns.”
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