- Folha de S. Paulo
• Banco Mundial fala de lerdeza 'estrutural' nos emergentes; juros no mundo rico têm chilique
Entretidos com a nossa vidi- nha dura brasileira, com a calma aparente no mundo exterior e de costume indiferentes ao que se passa lá fora, esquecemos as ameaças financeiras e econômicas internacionais ao que restou de paz nesta província.
O relatório semestral do Banco Mundial, que trata com ênfase da "desaceleração estrutural" nos países em desenvolvimento (como nós), e um piti discreto nos mercados da dívida de país rico bastaram para nos lembrar de que o mundo é um lugar perigoso.
O Banco Mundial, primo menos antipático do FMI, disse em suma que a queda do preço das commodities, a lentidão do comércio internacional e, em particular, a retração comercial nos principais emergentes lançam o crescimento desses países em um enrosco de anos.
As taxas de juros que os donos do dinheiro pedem para aceitar títulos da dívida dos Estados Unidos e da Alemanha deram um daqueles saltos nervosos, para o nível mais alto em sete meses, no caso dos papéis americanos. Saltam de níveis teratologicamente baixos, claro, como se sabe, mas não é isso que interessa. Trata-se do enésimo microensaio do retardado ciclo de aumento das taxas de juros no mundo rico, pitis que começaram em grande estilo em meados de 2013.
A probabilidade de aumento dos juros no mundo rico, a começar pelos americanos, será tanto maior quanto mais certa será a retomada econômica por lá. O pessoal do Banco Mundial acredita que os países ricos vão sair do pântano e voltar a ter mais peso no crescimento mundial, enquanto o mundo em desenvolvimento volta a ratear.
Ou seja, os emergentes temos três problemas. O Brasil, um a mais. O crescimento da primeira década do século foi favorecido por juros relativamente baixos no mundo rico, crescimento chinês acelerado e expansão do comércio internacional a um ritmo maior que o da economia. Os três estão sob risco de faltar ou já em baixa. No Brasil, de resto, estão estropiados os instrumentos que poderiam atenuar tal crise (baixar juros, elevar o gasto público).
Além de causar danos por si só, a alta de juros nos EUA e, mais tarde, o fim do relaxamento monetário na Europa e Japão podem causar os tumultos e chiliques típicos dessas transições.
Na prática, isso significa menos dinheiro disponível para investimentos em países emergentes, em especial para os mais estropiados, como agora estamos: dólar ainda mais caro, crédito externo mais custoso.
Tanto já se falou disso que mal se presta atenção a tais riscos, como no início daqueles filmes-catástrofe, em que a vida parece risonha e franca enquanto um asteroide gigante toma a direção da Terra.
Quando o asteroide passará perto do planeta? O dos juros americanos pode passar em setembro, talvez dezembro. Tanto FMI como Banco Mundial sugerem aos americanos que adiem a alta dos juros, pois a economia americana não estaria assim tão bem das pernas e poderia ser prejudicada pelo rebote de uma crise ainda pior nos emergentes.
Desde o final dos anos 1990, de crise asiática, russa e argentina-brasileira, não se aventava que os países em desenvolvimento poderiam provocar uma retração econômica mundial. Pois então, se passou a aventar, trate-se de chute ou não.
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