Ricardo Della Coletta, Tânia Monteiro e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo
• Planalto promete liberar emendas para acalmar base após petista propor nomeação de ministro de Relações Institucionais
BRASÍLIA - Para pacificar a base, em especial o PMDB, e consolidar apoio para o projeto de lei que revê a política de desoneração da folha, o governo prometeu ontem liberar R$ 4 bilhões em emendas parlamentares e acelerar a nomeação de cargos de segundo escalão, além de ter assinado um decreto que garante que os pagamentos de emendas antigas de deputados e senadores não serão cancelados.
A base no Congresso tem se queixado de que as emendas estão totalmente congeladas. Há também reclamações sobre demora nas nomeações. Em relação à distribuição de cargos, o governo decidiu que, nos Estados onde não houve acordo em relação ao nome indicado, a decisão será tomada pelo governo. No domingo, o vice-presidente Michel Temer e os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, das Comunicações, Ricardo Berzoini, e da Aviação Civil, Eliseu Padilha, se reúnem para tratar do tema.
Os anúncios foram feitos em reunião comandada por Temer e Mercadante ontem, no Palácio do Jaburu. O ministro da Casa Civil defendeu a necessidade de que seja nomeado um titular para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), cargo hoje vago e acumulado por Temer. Para o petista, com a chegada do momento de liberação das emendas parlamentares, é preciso que haja uma pessoa 100% dedicada ao tema para saber como será feita a distribuição. Hoje, Berzoini e Padilha cuidam do assunto.
Reação. A fala repercutiu mal no PMDB. Segundo integrantes do partido, a ideia cria um clima de “hostilidade” e pode causar até o rompimento da aliança. Nos bastidores, peemedebistas classificaram a proposta como uma reação de Mercadante ao fato de ter perdido espaço no governo desde que o vice acumulou a função de coordenador político. Alguns chegaram a dizer que, se Dilma realmente nomeasse um novo nome para a SRI, estaria assinando a “declaração de rompimento” com o PMDB.
Para o ex-ministro Moreira Franco, um dos principais aliados de Temer, “não cabe esse tipo de ciumeira e hostilidade” a quem está “entregando os resultados” esperados. Ele lembrou que há medidas importantes que ainda precisam passar pelo Congresso, como o projeto das desonerações.
“Eu acho que o Michel tem dado demonstrações no exercício da atribuição que lhe foi delegada pela presidente de que nós do PMDB não vamos deixar que a perplexidade paralise o País. É natural que ela reconheça isso”, disse. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), também criticou a ideia de Mercadante. “Quer dizer que eu sou chamado para apagar o incêndio e depois vou lá e queimo o bombeiro?”, ironizou.
Partidos aliados e peemedebistas jogam na conta de Mercadante o fato de as nomeações não saírem. A Casa Civil, por sua vez, alega que muitas delas não saíram por falta de entendimento dos próprios partidos.
Ontem, em conversa com o Estado, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, defendeu Mercadante. “A fala do ministro Aloizio Mercadante tinha por objetivo aprimorar o funcionamento do atendimento aos parlamentares e às suas demandas”, afirmou. “A posição é de reconhecimento ao vice-presidente, que tem cumprido papel fundamental na garantia da governabilidade.”
Colaboraram Rafael Moraes Moura e Beatriz Bulla
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