• PMDB avisou que mudança devolveria tema do impeachment ao Congresso
BRASÍLIA - O governo passou ontem o dia tentando contornar um conflito criado pelo ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), que abriu uma nova crise com o PMDB ao propor que o vice-presidente Michel Temer deixasse a articulação política do governo. Instalado o mal-estar, com Temer mostrando-se irritado e contrariado com a proposta, o petista tentou minimizar o problema, afirmando que sua proposta incluía transferir o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) para a Secretaria de Relações Institucionais, que foi acumulada por Temer em abril, no auge da crise entre Executivo e Congresso.
Em reunião há duas semanas com Temer, Padilha e o ministro Ricardo Berzoini (Comunicações), Mercadante sugeriu que o vice deixasse de acumular as duas funções, mas não se referiu a nenhum substituto. No PT, havia a defesa de que um petista retomasse o cargo. A ideia do chefe da Casa Civil foi entendida no PMDB como uma forma de reduzir o poder de Temer, o que gerou nova turbulência nas relações entre os dois maiores partidos da base governista. Ontem pela manhã, em reunião no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência, Mercadante disse a parlamentares e ministros que foi mal interpretado.
— A única coisa que eu propus era a volta da ideia inicial de colocar o Padilha na SRI — disse, segundo relatos de participantes da conversa.
No PMDB, a justificativa de Mercadante não foi levada em consideração. Peemedebistas fizeram chegar ao ministro da Casa Civil o recado de que, se Temer fosse tirado da coordenação política, no dia seguinte o impeachment da presidente Dilma voltaria a ser discutido no Congresso.
— O partido que garante a governabilidade, também pode acabar com a governabilidade, se mudar de lado — disse um integrante da cúpula do partido.
Para os peemedebistas, a proposta de Mercadante ocorre em meio ao melhor momento da articulação política do governo, e foi feita para desestabilizar as relações internas. Com a ascensão da dupla Temer e Padilha, que assim como o vice se divide entre seu cargo, na Secretaria de Aviação Civil, e as Relações Institucionais, Mercadante acabou perdendo espaço nas negociações de cargos com políticos, o que fazia praticamente sozinho até abril.
Depois de causar a confusão, Mercadante considerou que tudo não passava de um grande mal entendido e que nunca teve a intenção de propor a redução do papel de Temer. O ministro Edinho Silva (Comunicação Social) também tentou acalmar os aliados.
— Mercadante se expressou com o objetivo de aprimorar os trabalhos relativos à SRI. O governo reconhece o papel cumprido por Temer na articulação política e na garantia da governabilidade — disse Edinho ao GLOBO. Ele afirmou ainda que eventuais mudanças só ocorrerão com a coordenação de Temer.
Um dirigente do PMDB disse ao GLOBO que Mercadante tem se envolvido em questões internas do partido. Há poucos dias, sem comunicar aos peemedebistas, o ministro telefonou ao senador Roberto Requião (PMDB-PR) pedindo que assumisse a relatoria da CPI da CBF, que será instalada no Senado.
Temer passou a acumular as funções de vice com as relações institucionais em abril. Antes, as negociações com deputados e senadores vinham sendo feitas pelo trio Mercadante, Pepe Vargas e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), e eram consideradas desastradas pelos parlamentares. Dilma, então, convidou Padilha para o cargo. Ele não aceitou, e Temer passou a acumular as duas funções.
Desde então, o vice vem mantendo reuniões diárias com deputados, senadores e dirigentes partidários, o que melhorou o clima entre os dois Poderes.
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