terça-feira, 21 de julho de 2015

Governo tenta esvaziar Cunha e reorganizar base no Congresso

Fernanda Krakovics, Júnia Gama, Luiza Damé, Simone Iglesias e Patrícia Cagni – O Globo

• "Se acharem alguém que indiquei, podem demitir", diz presidente da Câmara

BRASÍLIA - O governo aproveitará o recesso de duas semanas do Congresso para tentar reorganizar sua base e evitar novas derrotas na Câmara e no Senado. Além de orientar os ministros a conversar com os parlamentares de seus partidos, o Palácio do Planalto promete acelerar a liberação de emendas parlamentares ao Orçamento e a nomeação para cargos federais. A estratégia inclui não alimentar a polêmica com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PDMB-RJ), que, após ser acusado pelo consultor Júlio Camargo, em delação premiada na Operação Lava-Jato, de ter pedido propina de US$ 5 milhões, declarou sexta-feira que foi para a oposição. O governo pretende aproveitar o oposicionismo momentâneo de Cunha para tentar ocupar o seu espaço.

Em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a estratégia definida na reunião de ontem da coordenação política foi a de "reconstruir a ponte" com ele e a bancada do PMDB no Senado. Em pronunciamento gravado sexta-feira na TV Senado, Renan criticou o ajuste fiscal chamando-o de "tacanho" e previu que meses serão turbulentos para o governo.

Ao chegar em Brasília ontem, Cunha disse que não está com um "fuzil de guerra". Ele respondeu ao líder do governo, José Guimarães (PT-CE), que, dissera ser preciso "estender a bandeira branca".

- Não precisa estender bandeira branca, porque não estou com fuzil de guerra. Estou em um alinhamento político diferente do que eu estava antes - disse o peemedebista.

Questionado se entregaria os cargos sobre os quais tem influência no governo, respondeu:

- Não tenho nenhum cargo indicado. Se acharem algum que indiquei, podem demitir.

O governo aposta no vice-presidente Michel Temer para neutralizar o viés oposicionista de Cunha. No comando da articulação política, Temer tem feito acordos com parlamentares, mas as promessas param nos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), e Joaquim Levy (Fazenda). A presidente Dilma Rousseff determinou ontem que os acordos fechados com os congressistas sejam cumpridos o mais rapidamente possível.

Temer diz que há "crisezinha política"
Após a reunião, os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil), Jaques Wagner (Defesa) e Nelson Barbosa (Planejamento) minimizaram os ataques de Cunha e Renan. Padilha, que também é do PMDB, chegou a chamar o presidente da Câmara de "um dos mais brilhantes parlamentares da Casa, uma pessoa de alta qualificação pessoal, tirocínio singular, conhecedor do regimento, uma pessoa de altíssima qualificação para o exercício da atividade parlamentar".

Padilha e Wagner disseram que as críticas de Renan têm de ser vistas como contribuição:

- Os aliados não estão proibidos de fazer críticas, e o governo tem que ter humildade e sensibilidade para acolher as críticas, analisá-las e, na medida do possível, dialogar com esse parceiro que critica determinadas posições - afirmou Padilha.

- Críticas a gente tem que saber ouvi-las, até porque elas vêm para construir - completou Wagner.

Em Nova York, Temer chamou de "crisezinha política" o rompimento de Cunha com o governo:

- Até uma crisezinha política existe, por causa da posição de Eduardo Cunha. Mas crise institucional é que não existe. Quando eu falei crise institucional, diferenciei da crise política porque o país vive uma tranquilidade institucional, apesar de todos esses embaraços.

Apesar de dizer que não executará uma "pauta da vingança", Cunha autorizou o funcionamento de duas CPIs que preocupam o palácio: a do BNDES e a dos Fundos de Pensão.

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