• A questão é saber se os partidos, inclusive os da oposição, se deixarão usar por Eduardo Cunha e Renan Calheiros na estratégia de criar problemas para o Planalto
É inaudito que, ao mesmo tempo, os presidentes da Câmara e do Senado sejam personagens de investigações sobre corrupção. Se acrescentarmos a isso uma crise econômica de razoáveis dimensões, para cuja solução o Congresso é instrumento-chave, devido à necessidade de aprovação de medidas de readequação dos gastos públicos, chega-se a uma situação complexa.
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) havia sido citado em depoimentos na Operação Lava-Jato do operador financeiro Alberto Youssef, relacionados ao recebimento de dinheiro surrupiado da Petrobras, no esquema de desfalques destinados a irrigar as finanças do PT, PP e PMDB e de campanhas de candidatos das legendas.
As acusações ao presidente da Casa subiram na escala de importância com a descoberta de que intimações a que fornecedores da estatal (Mitsui, Samsung) prestassem informações à comissão da Câmara foram redigidas no gabinete do deputado, como revelou O GLOBO.
E chegaram ao clímax na semana passada com o depoimento à Justiça, gravado em vídeo, de Júlio Camargo, facilitador de negócios, de que Cunha lhe cobrou US$ 5 milhões em propinas. O deputado, fiel a seu estilo, respondeu atirando e se declarou na oposição ao governo Dilma.
No fim de semana, baixou o tom, e garantiu que não usará o cargo para retaliações. Aguardemos. Já Renan convocou horário em rede nacional na sexta, como fizera Cunha na véspera, também para “prestação de contas”, na condição de presidente do Senado. Solidarizou-se com o confrade peemedebista e fez evidente ameaça ao governo ao criticar o ajuste fiscal. Usou argumentos risíveis, como o de que “até aqui quem pagou a conta foi o andar de baixo...”. Pois é o “andar de baixo” que de fato paga a conta, mas do atraso no ajuste.
Renan aparece na delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e é tido como padrinho do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, outro citado por Paulo Roberto.
A questão é saber se os partidos, incluindo os oposicionistas, se deixarão manipular por Cunha e Renan, nas demonstrações de força diante do Planalto, em tentativas insanas, e que podem ser infrutíferas, de escapar de serem denunciados ao Supremo.
Não há dúvidas da responsabilidade de Dilma, Lula e PT na crise econômica. Mas agora se trata de aprovar as ações necessárias para revertê-la. Como elas demoram a tramitar pelo Congresso, há o risco concreto de o início de 2016 também ser contaminado pela ressaca da falência do “novo marco macroeconômico", política desastrosa adotada a partir 2009 até 2014.
E assim as expectativas se deterioram: já se prevê uma recessão, este ano, de 1,5% e uma inflação de 9,15%, próxima dos dois dígitos. Boa notícia para Cunha e Renan, se desejarem ser kamikazes, e péssima para o país. Em última análise, muita coisa vai depender da sensatez de lideranças, inclusive da oposição.
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