Cristiane Agostine - Valor Econômico
SÃO PAULO - O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, afirmou ontem que "pode ter" conversado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o interesse da Odebrecht no processo de privatização da portuguesa EGF, mas disse que o petista "não meteu cunha", ou seja, não fez lobby para beneficiar a empreiteira brasileira.
"Se por acaso alguma menção tenha sido feita [à Odebrecht], foi meramente incidental ou insignificante, no sentido em que poderia haver maior interesse por parte das empresas brasileiras em processos que estivessem anunciados para o futuro", disse Coelho. "Isso pode ter acontecido". O primeiro-ministro e o ex-presidente reuniram-se três vezes e a conversa que "pode ter" havido foi em abril de 2014, cinco meses antes da privatização da EGF.
O primeiro-ministro negou que Lula tenha atuado em favor da Odebrecht em Portugal, conforme apura um inquérito do qual o ex-presidente é alvo. "O ex-presidente Lula da Silva não me veio meter nenhuma cunha para nenhuma empresa brasileira", afirmou Coelho em entrevista, que pode ser assistida pelo site da RTP, Rádio e Televisão de Portugal. "Não me veio dizer: 'há aqui uma empresa que eu gostaria que o senhor, se pudesse, desse ali um jeitinho'. Isso não aconteceu. E nem aconteceria. Estou convencido, nem da parte dele, nem da minha parte", disse o primeiro-ministro a jornalistas.
No fim de semana, o jornal "O Globo" publicou um telegrama no qual o ex-presidente teria pedido ao primeiro-ministro de Portugal para que desse atenção aos interesses da Odebrecht na privatização da EPG.
Lula é alvo de um inquérito que investiga o suposto tráfico de influência em favor da Odebrecht em negócios em Portugal e em Cuba. O ex-presidente nega e na semana passada pediu a anulação do inquérito.
Ao falar com jornalistas, em um hotel de Lisboa, o primeiro-ministro disse que nem a Odebrecht nem outra empresa brasileira apresentou proposta para a compra da EGF, que foi vendida em setembro de 2014 para uma empresa portuguesa. Para o governo de Portugal, o interesse de empresas brasileiras na privatização da estatal ficou "aquém do esperado".
Em entrevista à Rádio e Televisão de Portugal, o embaixador brasileiro em Lisboa, Mário Vilalva, disse que Lula e Coelho "trocaram impressões sobre o comércio bilateral", nas conversas que tiveram. "Nesse contexto é que as empresas são citadas. Isso foi o que o ex-presidente Lula fez, inclusive por sugestão minha, que citasse as empresas que têm interesse em Portugal", afirmou Vilalva.
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