Bela Megale, Graciliano Rocha e Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo
• Em notas encontradas pela PF, executivo fala em buscar coordenação com "grupo de crise do governo"
• Empresário menciona contatos com políticos e propõe "higienizar apetrechos" de dois executivos sob suspeita
SÃO PAULO - Anotações encontradas pela Polícia Federal nos telefones celulares do empresário Marcelo Odebrecht sugerem que ele se empenhou ativamente para conter danos causados pela Operação Lava Jato antes de ser preso pela PF.
De acordo com relatório produzido pelos policiais que examinaram as anotações, o executivo buscou contato com políticos e auxiliares da presidente Dilma Rousseff para discutir o avanço das investigações e seu impacto.
As anotações mencionam vários políticos, em geral indicando apenas as iniciais, e muitas são difíceis de interpretar com segurança sem conhecer o contexto em que foram produzidas e a identidade das pessoas mencionadas.
O relatório é um dos elementos apresentados pela PF para justificar o indiciamento de Marcelo Odebrecht por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro, proposto nesta segunda-feira (20).
O empresário está preso em Curitiba desde 19 de junho, junto com outros quatro executivos que trabalhavam para o grupo Odebrecht e também são acusados de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras.
Os procuradores da Lava Jato devem analisar o relatório da PF e avaliar se novas investigações serão necessárias, ou se já há evidências suficientes para propor à Justiça uma ação penal contra os executivos.
"Grupo de crise"
Uma das anotações encontradas pela PF nos celulares de Marcelo Odebrecht diz ser necessário ter "contato ágil/permanente com o grupo de crise do governo e nós para que informações sejam passadas e ações coordenadas".
A PF não sabe quando a anotação foi feita, mas suspeita que isso ocorreu depois de novembro do ano passado, quando a Operação Lava Jato prendeu executivos de várias empreiteiras que têm negócios com a Petrobras.
A mesma anotação fala em "trabalhar para para/anular (dissidentes PF...)". Segundo a interpretação da PF, trata-se de um indício de que Marcelo Odebrecht pretendia usar policiais "dissidentes" para tumultuar as investigações.
O empresário também parecia empenhado em oferecer garantias a dois executivos do grupo sob investigação, Márcio Faria e Rogério Araújo, que hoje estão presos com ele em Curitiba. "MF/RA: não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim", diz a anotação.
O mesmo arquivo fala em "higienizar apetrechos MF e RA". De acordo com a interpretação da PF, isso significa que o empresário pretendia apagar o conteúdo de telefones, computadores e outros aparelhos dos executivos.
Há referências ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que aparece numa anotação como "ECunha", mas o contexto não deixa claro por que Marcelo Odebrecht pensou neles ao redigir as anotações no telefone.
Segundo a polícia, "MT" é o vice-presidente Michel Temer, "GA" é o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), "FP" é o governador mineiro, Fernando Pimentel (PT), e "JW" é o ministro da Defesa, o petista Jaques Wagner.
A PF achou também um e-mail de 9 de janeiro de 2013 com o título "Pedido específico blindagem JEC". Para o policial que analisou o material, "JEC" pode ser o ministro da Justiça, o petista José Eduardo Cardozo. O texto do e-mail inclui esta frase: "Para Edinho visão da conta toda inclusive gasto com o Haddad. MRF: dizer do risco de chegar na campanha dela?".
Para a PF, "Edinho" pode ser o então presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva, hoje ministro da Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto, e a mensagem pode ser uma referência à campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), eleito em 2012.
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