sexta-feira, 31 de julho de 2015

Luiz Garcia - Ficar de olho

- O Globo

Sou de um tempo antigo, em que rico não ia para a cadeia, a não ser por razões políticas, ou seja, quando prejudicasse os interesses de quem estava no poder. Hoje, temos como fenômeno a Operação Lava-Jato, assim batizada por razões desconhecidas pela plateia - o que não tem impedido que ela bata palmas entusiásticas pelos resultados já conhecidos.

No episódio mais recente, ficamos sabendo que o Partido dos Trabalhadores, mais conhecido por PT, tem trabalhado com grande entusiasmo para encher os bolsos de uma turma que certamente não se identifica com as ideias e propostas com que foi criado.

Alguns eleitores indignados talvez digam que o PT finalmente mostrou que é farinha do mesmo saco. Ou seja, o partido está apenas se igualando à maioria dos outros partidos. O tal saco, pelo visto, teria farinha para todos. E seria irresistível para políticos de todos os continentes.

No mais recente episódio da Lava-Jato, o operador Mário Goes fez revelações interessantes. Ele contou que passava dinheiro de empreiteiras para ex-diretores da Petrobras, usando para isso contas na Suíça, aquele pequeno país europeu famoso por abrigar a riqueza de senhores que enchem seus bolsos com atividades ilegais.

Quando nasceu, o PT foi visto por muita gente boa como um partido que serviria para melhorar o nosso sistema político, já que representaria a grande massa de operários, que até então não tinha quem defendesse seus interesses.

Foi o que ele fez, durante muito tempo. Hoje, é com uma mistura de tristeza e indignação que vemos algo bem diferente: ele serve, talvez até com mais entusiasmo, aos interesses pessoais de uma grande fatia de seus quadros políticos.

É pena, mas é uma verdade inegável. Muitos talvez digam que todos os partidos políticos agem da mesma maneira. Como se dizia antigamente, seriam farinha do mesmo saco.

Podemos ter algum consolo lembrando que o saco é universal. Seja como for, sempre vale a pena buscar, em todas as eleições, candidatos que não moram nele. Não é fácil, mas, quem sabe, a gente talvez consiga encontrar, pelo menos, políticos que ainda não se tenham corrompido. E que prestem atenção a um aviso por enquanto amistoso: "Vamos ficar de olho em você."

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