Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - A possibilidade de a presidente Dilma Rousseff ser afastada do cargo por um processo de impeachment e a consequente posse do vice-presidente, Michel Temer, para cumprir o restante do mandato, ganha cada vez mais defensores na cúpula do PMDB, convencida da falta de condições da presidente de permanecer no cargo, mas ainda dividida quanto à solução.
Dirigentes pemedebistas favoráveis ao impeachment como melhor solução para o país já desenham os desdobramentos de eventual afastamento de Dilma: Temer assumiria, faria um governo de união com os partidos que quisessem, montaria um gabinete de "alto nível", cortaria custos da máquina pública e realizaria reformas e ajustes necessários para fazer o país voltar a crescer e retomar estabilidade política. Temer não disputaria a reeleição em 2018.
Dirigentes do partido dizem que o vice, presidente nacional do PMDB, atua para garantir a estabilidade do governo e evitar desgastes à presidente. Mas os demais dirigentes conversam abertamente sobre o isolamento político de Dilma e a previsão de agravamento da economia em setembro e outubro, com demissões em vários setores da economia, após a aprovação do projeto que acaba com as desonerações da folha de pagamentos.
A previsão é que o setor produtivo, ainda dividido, conclua pela necessidade de afastamento de Dilma, aumentando a pressão da opinião pública sobre o Congresso. Para criar as condições para o impeachment, citam o risco de crise sistêmica e as chamadas "pedaladas fiscais" (manobras contábeis envolvendo uso de recursos de bancos federais para maquiar o Orçamento da União).
Os pemedebistas que preferem o caminho do impeachment avaliam que seria a solução menos traumática para o país. Consideram que as outras opções provocariam danos piores. Se Dilma cumprir o mandato até o fim, ficará "sangrando, politicamente ilhada e sem poder para tirar o país da crise econômica", segundo um dirigente do PMDB. A alternativa da cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que significaria também o afastamento de Temer da Vice-Presidência e a realização de novas eleições, levaria a um acirramento da guerra entre PSDB e PT e da divisão do país.
A avaliação é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, teriam uma "disputa sangrenta". Os pemedebistas estão convencidos que Lula seria candidato e teria o PT a seu lado, levando sindicatos, militantes do MST e do PT às ruas. A cassação do mandato pela Justiça Eleitoral começou a ser defendida no PSDB, por aliados de Aécio, como melhor solução para o afastamento de Dilma. O argumento dos tucanos é que somente uma nova eleição daria legitimidade ao futuro presidente.
Políticos da cúpula do PMDB com experiência no Congresso dizem que a última vez em que o afastamento de um presidente foi comentado tão abertamente como agora foi no governo de Fernando Collor, que acabou sofrendo impeachment. Acreditam que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), a quem cabe aceitar ou não aber- tura do processo, será convencido pela pressão da opinião pública.
No dia seguinte à convenção nacional do PSDB que reelegeu Aécio presidente do partido, sob duros discursos contra o governo, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) acusou a oposição de "golpe" e de querer "ganhar no tapetão" por defender o afastamento da presidente. Provocou forte reação do tucano Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
"O golpe não é legítimo! Dizer que tem de afastar uma presidente da República sem mostrar o motivo. Querer ganhar no tapetão uma oportunidade para governar o Brasil. Vamos esperar 2018, vamos disputar a eleição. Um partido não pode se prestar a esse papel: querer que o Tribunal Superior Eleitoral casse a presidente por conta disso ou querer preparar, no Tribunal de Contas da União, uma situação de não aprovação de suas contas de governo, para levá-la a um impeachment", disse Gleisi.
"Estou impaciente, fervendo! A senhora está abusando no direito de nos atacar", afirmou Nunes Ferreira, demonstrando irritação. "Não lhe chamei de golpista, mas, se vossa excelência vestiu a carapuça...", respondeu a petista. Segundo ela, há dificuldades e problemas no país, mas não se pode achar "que só há erros, que o Brasil está quebrado, é um país sem rumo e desgovernado".
O senador tucano disse que falar em afastamento de Dilma não é golpe. "A tese de que a oposição busca um golpe é simplesmente é uma fantasia. Quero ganhar no voto, em 2018. Mas, se acontecer algo antes, se a Justiça decidir no sentido de interromper o mandato, estaremos em condições de fazer uma transição tranquila e tomar as rédeas do governo."
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