• Ataques do PT ao plano de ajuste da presidente, do próprio partido, agravam as expectativas num quadro de recessão e tornam a crise ainda maior
Crises paralelas, a econômica e a política tornam o horizonte nebuloso e, em alguns aspectos, se autoalimentam. A imagem e a popularidade da presidente sofreram severas avarias com a constatação de que o discurso do palanque da reeleição nada tinha a ver com a realidade do início do segundo mandato.
A economia, por sua vez, já sinalizava há algum tempo os desequilíbrios graves provocados pela política temerária do "novo marco macroeconômico" - gastos públicos sem prudência, crédito sem limites etc. Isso, somado ao escândalo do petrolão, teve um efeito tóxico sobre a presidente reeleita.
A partir de 2012/13 já era perceptível que uma crise estava sendo contratada. Números expressivos da atual conjuntura confirmam aquela expectativa. E não apenas na inflação, acima dos 8%, quase o dobro da meta de 4,5%. Indicadores de produção e consumo são igualmente preocupantes. No primeiro semestre, soube-se ontem, a produção de veículos caiu 18,5% em comparação a idêntico período de 2014. Em 12 meses, o encolhimento do setor industrial como um todo chegou a 5,3%. Por inevitável, o desemprego cresce. O índice calculado nas principais regiões metropolitanas se aproxima dos 7%, três pontos acima dos níveis alcançados no final do ano passado, e que serviram de peça de propaganda na campanha eleitoral petista. Neste quadro, o fator confiança - ou a falta dela - ganha importância crescente. Sem confiança, empresário não investe, consumidor não consome, e assim as engrenagens da economia não funcionam.
Para a escassez de confiança contribui o próprio PT, partido da presidente, quando ataca a política de ajuste que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenta executar. A austeridade, fiscal e monetária (juros), é o único caminho que leva à recuperação da economia em bases saudáveis.
O PT demonstra não ter aprendido a lição do início do primeiro mandato de Lula. O ataque ao ajuste, consumado por meio da rejeição de medidas no Congresso, tem, ainda, a alegre e inconsequente participação da oposição. Entra-se, então, num jogo de quanto pior melhor, em que, na realidade, todos perdem, a começar pela população de renda mais baixa.
As instituições funcionam, como demonstram as investigações do escândalo lulopetista do petrolão, e a atuação até agora do TCU, no julgamento das contas do último ano do primeiro mandato de Dilma, marcado pelas "pedaladas" e desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Fatos que deverão ter desdobramentos importantes no Congresso, no STF e no TSE.
Ainda mais nessas circunstâncias, desestabilizar o programa de ajustes e conspirar contra Levy é retardar a recuperação de uma confiança mínima que permita o início da retomada do crescimento. Por tabela, deteriora-se o ambiente político. É preciso romper este círculo vicioso.
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