- O Globo
A presidente Dilma parece ter levado um choque de realidade diante da convenção nacional do PSDB no domingo, quando o maior partido oposicionista declarou-se preparado para assumir o governo quando necessário, sinalizando claramente a possibilidade de o mandato presidencial ser reduzido em decorrência dos processos que correm no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Tribunal de Contas da União (TCU).
Diante da situação adversa que não dá trégua, já existe quem, dentro da teórica base aliada governista, detecte a necessidade de uma repactuação entre os partidos que apoiam o governo, para que se atravesse a crise econômica sem que sua correspondente política gere uma situação de inviabilidade do governo.
O problema maior para a efetivação desse pacto interno é o receio de que já não exista uma recuperação possível para o governo Dilma, e de que quem esteja em sua órbita seja tragado pela crise inexoravelmente. Não existe no momento um clima de boa vontade para a busca de uma negociação do dissenso, para que os estragos sejam minimizados.
Isso porque não há confiança na interlocução entre o PT e os demais partidos da base aliada, que deveria ser comandada pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante - que não tem liderança dentro do PT e, portanto, não é reconhecido como interlocutor confiável.
A decisão da presidente Dilma de apresentar sua defesa ao TCU para os partidos aliados, para que eles possam defender o governo em relação às pedaladas fiscais que foram reprovadas pelo relator de suas contas do último ano do governo, é vista como uma sua primeira reação positiva, apesar de alguns assessores terem sido contrários a essa reunião de emergência no Palácio do Planalto.
Ela pode favorecer a percepção de que o governo está com receio de possíveis sanções, devido à palavra "impeachment" estar na boca de todo o mundo político nos últimos dias. Mas até mesmo os pseudoaliados abriam janelas para uma escapada de emergência caso necessário: "Hoje não tem fato concreto (para o impeachment), mas, se o fato surgir, é outro quadro", afirmou Maurício Quintella Lessa, líder do PR na Câmara, entre os presentes à reunião convocada por Dilma.
Atribui-se à presidente a determinação de defender seu governo "com unhas e dentes", mas, para quem tem uma aprovação de apenas um dígito, e em queda, é difícil encontrar apoio político irreversível, mesmo dentro do PT, teoricamente o seu partido, mas que vive uma situação paradoxal: sua melhor chance de manter o poder é Lula, que se desmoraliza cada dia mais com as investigações das empreiteiras da Lava-Jato.
Para que o ex-presidente tenha chances mínimas de ser competitivo, no entanto, o governo de Dilma precisa dar certo, ou ele tem que se afastar dela a tal ponto que convença o eleitor comum de que não tem nada a ver com o que aconteceu.
Mas o governo Dilma não tem chance de recuperar o fôlego sem apoio político, que ela tenta recuperar. Houve, é verdade, um movimento coordenado de combate à palavra de ordem da convenção do PSDB, classificada de "golpismo" em uníssono por lideranças do PT no Congresso.
E o vice-presidente, potencial beneficiário de uma cassação do mandato de Dilma devido às irregularidades de suas contas detectadas pelo TCU, saiu em sua defesa. O certo é que não haverá nenhum movimento exitoso de impeachment na Câmara sem que o PMDB esteja de acordo, a não ser a decisão do TSE, que independe de aprovação do Congresso, mas que mesmo assim pode ser contestada por meio de recursos ao Supremo Tribunal Federal, como já ocorreu em processos de cassação de governadores.
Há uma tentativa de reação das centrais sindicais e dos movimentos sociais em favor do governo, mas o momento econômico não é propício a defesas definitivas do governo. Tanto que o próprio PT e os sindicatos também criticam o aumento dos juros e o ajuste fiscal atribuído a Levy.
Em contrapartida, a manifestação contra o governo marcada para 16 de agosto poderá, se repetir a dimensão política daquelas já ocorridas, ser certamente fator decisivo para a tomada de posição do Congresso e do PMDB.
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