• Presidente reúne ministros e partidos da base para discutir defesa do governo, além de receber Cunha
A reação de Dilma
• Presidente se reúne com Cunha e Conselho Político após PSDB apostar que ela não conclui mandato
Luiza Damé e Isabel Braga – O Globo
BRASÍLIA - Em meio ao agravamento da crise política, insuflada nos últimos dias pelos depoimentos relacionando arrecadação irregular de recursos para sua campanha no ano passado, a presidente Dilma Rousseff fez ontem uma série de reuniões para tentar reagir. Pela manhã, Dilma encontrou-se com ministros e o vice-presidente Michel Temer. Após esse encontro, a presidente decidiu convocar às pressas uma reunião do Conselho Político, que reúne os líderes e os presidentes dos partidos da base aliada. Onze líderes da Câmara, outros onze do Senado e seis presidentes de partido compareceram ao encontro no Palácio da Alvorada, no início da noite. Depois, por volta das 21h, Dilma ainda recebeu reservadamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), junto com Temer.
Diante dos aliados, a presidente e os ministros Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) e Nelson Barbosa (Planejamento) explicaram a defesa do governo no caso das "pedaladas fiscais" que está em julgamento do Tribunal de Contas da União. Como o TCU é um órgão consultivo do Congresso, mesmo que a presidente seja condenada pela corte, suas contas só poderão ser aprovadas ou reprovadas pelos deputados e senadores. No encontro, Adams contestou o termo "pedaladas" e disse não ter havido irregularidades.
"Muito tranquila e segura"
Os líderes sugeriram à presidente e aos ministros que compareçam à Câmara e ao Senado para dar aos parlamentares suas explicações. Segundo os presentes, Dilma se mostrou "muito tranquila e segura" dos fundamentos jurídicos da defesa.
- A presidente demonstrou estar muito tranquila (em relação às pedaladas) e otimista em relação ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE, lançado ontem) - afirmou o líder do PDT, André Figueiredo (CE).
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que hoje os aliados vão se reunir com Temer para elaborar uma nota de apoio a ele e Dilma.
- Vamos discutir a nossa solidariedade apresentada a ele e a ela, compromisso irrestrito de defesa da Constituição e da legalidade democrática - disse Falcão, negando que seja uma resposta à oposição: - Não é nenhuma resposta, é uma declaração dos partidos que aqui estavam.
Segundo um dos presentes, a única pessoa a tocar no tema do eventual afastamento de Dilma foi a presidente do PCdoB, Luciana Santos, que, em discurso, disse que o partido ficaria contra "essa tentativa de golpe". Dilma, no entanto, não fez qualquer comentário e mudou de assunto.
Segundo os presentes, Dilma fez um apelo para que a Câmara adie a votação do projeto que aumenta a correção do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que Eduardo Cunha pretende votar na próxima semana. Segundo o governo, a medida pode prejudicar o financiamento do programa Minha Casa Minha Vida.
Logo após o encontro da manhã, Temer disse que é preciso evitar que uma crise institucional se instale no governo. Segundo ele, Dilma está tranquila em relação ao avanço do movimento dentro do Congresso Nacional em torno da possibilidade de ela ser afastada da Presidência.
- A presidente está inteiramente tranquila. Todos nós achamos que é algo impensável para o momento atual (a saída da Presidência). Eu vejo essa pregação com muita preocupação. Nós não podemos ter a essa altura, em que o país tem grande repercussão internacional, uma tese dessa natureza sendo patrocinada por diversos setores. Levar-se adiante uma ideia de impedimento da presidente da República poderia revelar uma crise institucional, que é indesejável para o país - disse Temer.
O vice-presidente colocou panos quentes na relação com o PSDB. Anteontem, no congresso que reconduziu o senador Aécio Neves (MG) à presidência do partido, os principais caciques tucanos disseram acreditar que o mandato de Dilma possa terminar antes de 2018. Apesar disso, Temer disse que partidos como o PSDB estão no seu papel de criticar o governo, e afirmou que espera que Dilma só deixe o governo nas próximas eleições presidenciais.
- Todos nós esperamos que seja daqui a três anos e meio - afirmou Temer: - O PSDB está fazendo seu papel. Acha que terá suas razões... A oposição existe para ajudar a governar. Nós achamos que devemos evitar qualquer espécie de crise institucional.
Cunha reafirma que Temer foi sabotado
Ao chegar à Câmara, ontem à noite, Cunha (PMDB-RJ) contestou a afirmação de Temer de que não foi sabotado pelo governo em sua atuação como articulador político. Cunha disse que Temer foi sabotado "até a semana passada", e que isso resultou em derrotas para o governo na Câmara, já que o vice não conseguiu "cumprir" os compromissos que assumiu com a base para garantir a aprovação de matérias do ajuste fiscal.
Cunha afirmou que, se não houver mudança de fato, a crise será reinstalada em breve:
- Até quinta-feira, ele estava sendo sabotado. Não adianta querer pôr o Michel na articulação política e ele ficar sendo desmoralizado por sabotagem, como estava acontecendo até quinta passada. Se ele não tivesse sido sabotado, talvez o governo não tivesse perdido tanta votação como perdeu. (Colaborou Júnia Gama)
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