• País continuará a descer a ladeira, enquanto cresce a preocupação do Planalto em arregimentar PMDB e outros partidos com a intenção prioritária de evitar o impeachment
Consta que, em aconselhamento recente, Dilma ouviu do ex-presidente Lula a sugestão de não realizar a reforma administrativa enquanto necessitar de apoio político-parlamentar para aprovar medidas contra a crise econômica e barrar processos de impeachment. E ainda que deveria atrair o PMDB de volta para o governo.
Conselhos de quem conhece. Lula teria lembrado que, em 2005, no estouro do escândalo do mensalão, ele fez o mesmo, e reservou para o partido o ambicionado Ministério da Saúde. Sonho de consumo de políticos, pelos bilhões que lá circulam e pelas inúmeras possibilidades de exercitar o clientelismo por meio de convênios com prefeitos e governadores.
Coincidência ou não, este arranjo administrativo — menos que uma “reforma” — parece ter empacado, enquanto a presidente se lança em busca de nomes de peemedebistas para uma nova arquitetura ministerial — embora a cúpula do partido, o vice-presidente, Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes da Câmara e do Senado, tenham procurado formalmente manter distância desta nova rodada de toma lá dá cá.
É fato que foi bem sucedida a operação de autoblindagem executada a partir de 2005 pelo então presidente Lula. Mas há uma diferença decisiva entre os dois momentos: em 2005, a economia decolava no vácuo do ajuste “neoliberal” patrocinado por Lula a partir de 2003 e na onda de crescimento sincronizado mundial, a reboque da China, voraz importadora de commodities brasileiras.
Lula voou em céu de brigadeiro e navegou em mar de almirante. Já hoje, por uma visão “desenvolvimentista” delirante da economia compartilhada pela dupla Lula-Dilma, o Brasil inova em sua História: quebrou em moeda nacional, e não por falta de divisas, como sempre aconteceu.
Na reativação do fisiologismo, Dilma conseguiu importantes vitórias na confirmação de 26 vetos pelo Congresso. Faltam seis, entre eles um muito importante, o que impede inaceitáveis reajustes salariais no Judiciário de até 78%. Espera-se que também este veto seja mantido.
A vitória do governo, porém, não equaciona a crise fiscal. Apenas não a deixa explodir de vez — nas circunstâncias, algo nada desprezível. Mas falta o Planalto agir na direção de um efetivo e sério ajuste fiscal, pelo lado das despesas.
Por enquanto, e infelizmente para o país e o governo, nenhum sinal de que isso acontecerá. A tendência parece ser de cada vez mais o Palácio se preocupar apenas em arregimentar o PMDB, o PDT e outras legendas com a ideia fixa de erguer uma barricada no Congresso contra o impeachment.
E enquanto inexistir a mínima esperança numa política de ajuste consequente e efetivo, o país continuará a descer a ladeira.
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