- Folha de S. Paulo
Percebo na leitura dos jornais duas escolas mais realistas de interpretação da crise. Há, na linha consequencialista, aqueles que defendem ser preciso reduzir a agonia ao mínimo necessário. Isso significa que deveríamos agir o mais rapidamente possível, cortando a fundo gastos públicos e recorrendo a algum aumento de impostos para fazer com que as contas fechem.
Nesse paradigma, o impeachment de Dilma Rousseff provavelmente não é uma boa ideia. O afastamento adicionaria novas incertezas a um processo em que o mais importante é encontrar o quanto antes algum polo de poder. Qualquer polo. Ademais, substituir Dilma agora implicaria convocar nova eleição. O sucessor da petista já surgiria numa situação extremamente frágil. Ele é que sofreria o inevitável desgaste dos próximos dois anos, que serão muito difíceis, e já não teria muita força política para atuar no momento em que as coisas começassem a melhorar. O cenário do impeachment, aliás, é o que daria melhores condições para uma possível volta de Lula em 2018.
A outra corrente, mais principista, sustenta que a crise é a oportunidade para as correções estruturais. Aqui, não seria de todo mal se a situação econômica se deteriorasse ainda mais para forçar mudanças impopulares em regras previdenciárias, trabalhistas etc., que, em condições normais, não seriam aprovadas pelo Congresso. Para estes, o impeachment seria bem-vindo, pois, além de adicionar combustível à crise, representaria o enterro simbólico das ideias econômicas que nos colocaram nessa enrascada.
Meus pendores são sempre consequencialistas. Não vejo por que a população deveria sofrer mais quando pode sofrer um pouco menos. Mas admito que a saída menos traumática amplia a chance de, mais uma vez, deixarmos de fazer a necessária arrumação fiscal, sem a qual nossos episódios de crescimento não passarão de voos de galinha.
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