sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Empregos piores – Editorial / Folha de S. Paulo

• Recessão derruba tanto o número de vagas quanto o poder de compra dos ocupados, em especial entre os trabalhadores informais

Uma particularidade da atual recessão é a velocidade com que se degradou o mercado de trabalho. Deixada para trás uma conjuntura historicamente favorável, as proporções da queda do emprego neste ano superam as observadas nas duas retrações econômicas anteriores, em 2003 e 2009.

No mês de agosto, 7,6% dos interessados em uma ocupação nas seis principais metrópoles do país não obtiveram sucesso, conforme divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira (24). Em igual período de 2014, essa taxa limitava-se a 5%. O número de desempregados, portanto, já cresceu mais de 50%. E o processo segue em andamento.

Reverteu-se desde janeiro uma trajetória de melhora contínua que, iniciada em 2010, contribuiu para a eleição e a recondução da presidente Dilma Rousseff (PT) –ela própria associa o atual colapso orçamentário às políticas adotadas para estimular a criação de vagas.

Se é verdade que desonerações tributárias, programas sociais e crédito subsidiado nos bancos públicos sustentaram a demanda e as contratações, os ajustes convenientemente procrastinados até o segundo mandato cobram agora seu preço com juros de mora.

Empregos caem em quantidade e qualidade. Nota-se que, entre as pessoas que permanecem ocupadas, a renda média declinou 3,5% em um ano, descontada a inflação do período. Trata-se de uma perda superior à projetada para a economia nacional neste ano, de 2,7%.

A média encobre situações mais dramáticas. Para os empregados sem carteira de trabalho assinada, o exemplo mais eloquente, a queda atinge 12,6%. Além de contar com os menores rendimentos, esse segmento, que representa 13% dos ocupados, acumula a vulnerabilidade de não contar com benefícios como o seguro-desemprego.

São visíveis, ademais, as tendências de redução do contingente de assalariados com carteira assinada e de aumento dos que trabalham por conta própria –o que, descontado o formalismo das classificações, revela haver mais gente obrigada a trocar empregos por bicos.

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