- O Estado de S. Paulo
O ministro Joaquim Levy nunca foi tão político nesses nove meses à frente da pasta da Fazenda quanto ontem, quando apelou para o fim das “ambiguidades políticas”. Avisou que é preciso unidade e alertou que tentativas de criar “cizânia” em torno do ajuste fiscal só contribuem para o aprofundamento da crise.
Ou melhor, das crises. De acordo com a fala de Levy, a conturbação política está entrelaçada à desorganização da economia e nenhuma das duas se resolve sem se encontrar uma solução para ambas. Quanto a isso, o ministro foi didático ao discursar ontem na cerimônia de entrega dos prêmios às empresas mais eficientes do País, segundo o ranking Empresas Mais, Estadão/FIA.
Manifesto. Levy provavelmente não escolheu as palavras e a ocasião ao acaso. Um dia antes, a Fundação Perseu Abramo, extensão acadêmica do PT, divulgara um documento de pesadas críticas à política econômica, atribuindo ao ajuste fiscal o risco da perda de todos os avanços sociais conquistados nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva. O manifesto estava assinado por intelectuais ligados ao partido e vocalizava as posições reiteradamente defendidas pela direção e parlamentares petistas.
Sem citar o documento ou fazer referência ao partido, o ministro da Fazenda foi claríssimo em sua exposição: “Estou pondo a casa em ordem”, afirmou, condicionando o sucesso da empreitada à execução de uma estratégica cujo ponto-chave é o “acerto fiscal” com cortes onde for necessário cortar, “sem espuma” ou “soluções fáceis” que, segundo ele, não são aceitáveis nem dignas de crédito.
Joaquim Levy expôs o que chamou de estratégia do governo para sair da crise: ajuste agora para criar um ambiente propício ao “relaxamento” da economia e, mais adiante, reformas estruturais para impedir a volta da inflação e assegurar o crescimento mediante investimentos e ampliação do mercado de trabalho. Discorreu sobre a receita que executa porque nela acredita e para executá-la foi nomeado.
A julgar pelo pronunciamento de Dilma Rousseff na Assembleia-Geral da ONU, reconhecendo a falência do modelo defendido pelo PT, Levy falou com respaldo da presidente. Resta saber se ela vai seguir a cartilha com a qual ideologicamente não concorda ou se fará o que é preciso ser feito.
Seu mentor, Lula, diante da necessidade, mudou. Hoje está por trás daqueles que resistem a seguir aquela mudança contida na “Carta aos Brasileiros”, que viabilizou o governo dele. Ao renegá-la, suscita dúvida sobre suas intenções em relação ao governo pelo qual é responsável, mas do qual busca de maneira oportunista se distanciar.
Ensaio geral. “O PMDB finalmente chegou à aristocracia”, comentou um dirigente com o colega de partido que o acompanhava à entrada do imponente prédio de apartamentos nos Jardins, onde Marta Suplicy oferecia, sábado passado, almoço aos novos correligionários e a amigos como o casal Ivo e Eleonora Rosset.
Pouco antes, a senadora selara o fim de sua trajetória no PT com o ato de filiação ao PMDB em que reuniu centenas de lideranças e militantes oriundos de bairros da periferia. As “bases” haviam sido arregimentadas no público fiel a ela desde quando foi prefeita, gente que já vestiu a camisa do PT e no ato de sábado trajava camisetas com a sigla do PMDB entrelaçada por um desenho em forma de chama ao nome de Marta.
Juntando aristocracia e periferia, a ex-petista apresentou à cúpula de seu novo partido o capital inicial para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2016.
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