- Folha de S. Paulo
Na última quinta, o petista Arthur Chioro fez um apelo patético a jornalistas que o entrevistavam: "Eu sou ministro da Saúde, não me demitam!". Chioro ainda estava no cargo, mas até os ascensoristas do ministério sabiam que ele não mandava mais nada. Sua cadeira estava prestes a ser entregue ao PMDB por um punhado de votos na Câmara.
Nesta terça, o telefone de Chioro tocou. Do outro lado da linha estava Dilma Rousseff, que usou poucas palavras para consumar a demissão anunciada. A presidente tem pressa. Nas próximas horas, terá que dispensar outros aliados para concluir o que chama de reforma ministerial.
O jogo do poder é bruto. Onze anos atrás, Lula também usou o telefone para demitir Cristovam Buarque do Ministério da Educação. A atitude foi muito criticada, mas o presidente tinha uma desculpa esfarrapada. Estava insatisfeito com o desempenho do auxiliar, a notícia vazou nos jornais, e Cristovam estava em Portugal.
Dilma não tem o mesmo álibi. Chioro estava em Brasília, e sua agenda não previa atividades fora do ministério. Bastava um chamado para que ele chegasse em alguns minutos ao Planalto. A presidente preferiu dispensá-lo pelo telefone, sem o trabalho de um aperto de mão.
A pasta da Saúde é valiosa, mas não saciará o apetite dos deputados do PMDB. O líder da sigla na Câmara avisou que só fecha negócio se a bancada ganhar mais um ministério. O pleito criou novo problema com o senador Renan Calheiros e o vice-presidente Michel Temer, que não aceitam perder seus lotes na Esplanada.
Os peemedebistas querem tudo, mas não garantem nada à presidente, rendida ao jogo de pressões no Congresso. "Enquanto o governo ficar se submetendo a chantagem, vai ser refém o tempo todo", protestou o deputado petista Jorge Solla, irritado com a demissão sumária de Chioro.
A queixa não sensibilizou o Planalto. Nesta terça, Dilma foi aconselhada a elevar para sete o número de ministérios que dará ao PMDB.
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