Por Bruno Peres - Valor Econômico
BRASÍLIA - A fundadora do novo partido Rede Sustentabilidade, Marina Silva, disse ontem que há no país uma falta de credibilidade em relação aos esforços do governo, diante de "uma crise profunda", com perda de emprego, alta de juros e inflação crescente. Marina enfatizou que as divergências nas soluções para o momento de turbulência do país ocorrem inclusive entre a presidente Dilma Rousseff e o próprio partido (PT).
"A toda semana tem uma medida nova [proposta pelo governo], e o papel mais grave dessa crise é que a presidente Dilma tem um projeto de ajuste para o Brasil, e o partido da própria presidente apresentou um outro projeto criticando o projeto dela", afirmou a ex-ministra, candidata presidencial que ficou em terceiro lugar nas eleições de 2010 e 2014.
Marina Silva referia-se à Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, que divulgou anteontem um documento com duras críticas ao ajuste fiscal comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Em palestra em um centro universitário em Brasília, Marina, que conseguiu recentemente registrar seu próprio partido, afirmou que a população anseia por mais representação política, na busca da eleição de "representantes", não de "substitutos".
"Tem um novo sujeito político em curso", disse a ex-ministra e ex-senadora. "Estamos saindo do ativismo dirigido, por quem quer que seja, para um novo ativismo autoral", completou Marina Silva.
Questionada sobre a migração para o Rede de parlamentares, Marina afirmou que está dialogando em busca de qualidade, não de quantidade, para o próprio partido. "Todos os que participam de um partido político têm direito de se colocar como possíveis candidatos, mas, neste momento, eles estão vindo para ajudar a construir o partido", afirmou.
Entre os primeiros nomes a aderirem ao novo partido estão o senador Randolfe Rodrigues (AP), saído do PSOL, e os deputado Miro Teixeira (ex-Pros-RJ) Alessandro Molon (RJ), originário do PT. Randolfe tentou no ano passado uma frustrada candidatura à presidência e Molon é pré-candidato a prefeito no Rio.
Durante a palestra, Marina criticou Dilma pelo anúncio feito na Organização das Nações Unidas (ONU) de propor zerar o desmatamento ilegal em 2030.
Apesar de considerar positivo que o governo brasileiro apresente metas para o meio ambiente, Marina apontou uma falha no formato do anúncio, "talvez por problema de assessoria", ao sugerir uma tolerância ao desmatamento ilegal pelos próximos 15 anos. "Nós conseguimos controlar todas as variáveis que evitam o problema da ilegalidade? Claro que não. Não depende da nossa vontade", disse. "Mas eu não posso anunciar a priori que eu vou ter ainda uma tolerância de 15 anos com aquilo que a lei não permite", acrescentou. Além de propor o fim do desmatamento até 2030, o Brasil defendeu reduzir em 37% a emissão de gases de efeito estufa até 2025. Marina considerou ainda que o Brasil pode fazer "muito mais" do que anunciou como metas na ONU.
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