quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Desemprego e endividamento

Tiago Cabral Barreira' e Rodrigo Leandro de Moura** - O Estado de S. Paulo

Os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam um aumento acentuado na taxa de desemprego e a manutenção da tendência de piora no mercado de trabalho. A taxa de desemprego atingiu 8,6% na média do trimestre encerrado em julho, sendo o maior valor desde o início da série, em 2012, e representa uma elevação de 1,7 ponto porcentual em relação ao mesmo período do ano anterior.

O desemprego foi puxado, sobretudo, pelo ingresso de mais pessoas do mercado de trabalho, elevando o montante da População Economicamente Ativa. Isso reflete uma tendência iniciada no início desse ano, e revertendo a tendência de aumento da população inativa dos anos anteriores.

Pelo lado da População Ocupada, a construção civil e indústria lideraram o corte de vagas. Isso é reflexo tanto do arrefecimento dos investimentos e da crise da Petrobrás, como, particularmente para a construção, da maior restrição ao crédito imobiliário, um dos motores da geração de emprego a partir do segundo mandato do governo Lula (2007-2010) e no primeiro de Dilma Rousseff (2011-2014). Dados de inadimplência mais recentes levantados pelo Serasa confirmam recordes históricos no nível de endividamento tanto para famílias como empresas. Uma população mais endividada e com capacidade de crédito esgotada empurra bancos a serem mais seletivos e cautelosos na concessão de empréstimos, o que reforça ainda mais os efeitos da recessão econômica sobre o nível de emprego.

Assim, existe o risco de travamento no mercado de imóveis no Brasil diante do excessivo endividamento de famílias e de uma maior onda de calotes. Um agravamento do cenário econômico, com queda da renda das famílias e do nível de emprego, o qual ocorre desde o início deste ano, tornaria esse cenário mais provável de ocorrer, agravando ainda mais a situação do já frágil mercado de trabalho.
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*Pesquisador do Ibre/FGV
**Professor e pesquisador do Ibre/FGV e professor da Uerj



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