- O Estado de S. Paulo
A pesar das aparências e de fingir que tudo está na santa paz, a presidente Dilma Rousseff se debate desesperadamente pela sobrevivência, dá tudo o que o guloso PMDB exige e está chegando a hora em que será obrigada a se definir entre o ministro Joaquim Levy e os lulistas que mandam no PT, na Fundação Perseu Abramo, na CUT, no MST e na UNE.
O cerco à presidente está se fechando, com uma disputa entre os que defendem o impeachment e os que querem Dilma presidente para transformá-la numa marionete de seus interesses ou de suas convicções. Com o PIB receoso de bater de frente com o governo, o PMDB rachado em torno de mais carguinhos e o PSDB cheio de dedos, a oposição é insuficiente para garantir o impeachment. Mas o “baixo clero” do PMDB invade o governo, enquanto os exércitos de Lula se esforçam para subjugar Dilma e assumir, na prática, o poder.
Os movimentos sociais e intelectuais alinhados com o PT estão, estridentemente, despudoradamente, com Lula e contra Dilma. E estão empurrando Joaquim Levy porta afora do governo com a mesma intensidade com que o próprio Levy decidiu parar de engolir sapos calado e sinaliza que, se é para sair da Fazenda, ele sai, mas não vai capitular da sua política econômica nem dos seus princípios.
É uma situação limite, dramática, resultado de um processo, ou de uma ambiguidade, que vem desde que as cortinas do teatro eleitoral caíram e a realidade emergiu ameaçadora, como previa a economista Sinara Polycarpo, aquela analista que foi demitida do Santander depois que Lula chiou. Enquanto ela ganha na Justiça, a realidade castiga o crescimento do país, os investimentos, a inflação, o câmbio e, obviamente, os empregos e os avanços sociais.
Assim chegamos ao décimo mês do governo com uma guerra aberta entre duas visões de mundo e de como retomar o crescimento, ambas bem representadas nos gabinetes de Brasília. De um lado, os que consideram danosa a política econômica do primeiro mandato e se batem pela volta da responsabilidade fiscal e do pragmatismo. De outro, os que têm saudade daqueles anos e se esgoelam pela volta do crédito fácil, da gastança e do populismo.
Nesse ambiente, os economistas lulistas da Fundação Perseu Abramo lançam um grito de guerra contra o ajuste de Dilma2-Levy1, que, segundo eles, “acarreta a desconstrução do modelo socialmente inclusivo implantado nos últimos anos”. “Últimos anos”, entenda-se, é um eufemismo óbvio para “governo Lula”.
Esse diagnóstico desconsidera fatores fundamentais, como a mudança do cenário e dos ventos favoráveis, a urgência da questão fiscal para a salvação da lavoura e o fato cristalino de que jogar a política de Levy no lixo e voltar ao primeiro mandato de Dilma seria aprofundar o desastre, afugentar de vez os investidores, inibir definitivamente a produção e...jogar o ônus no lombo dos mais vulneráveis. Nada poderia ser menos “socialmente inclusivo”.
Ao discursar ontem na entrega de troféus da primeira edição do Estadão Empresas Mais, Levy reagiu à turma do Lula. Disse que “a realidade se impõe, acima de ambiguidades políticas”, criticou “a procura por soluções fáceis” e avisou que o governo faz o que considera necessário, “apesar de todo o ruído”. Para ele, a prioridade é a questão fiscal, “maior fonte de incertezas para todo mundo”. Só então será possível recuperar o crédito e traçar as reformas estruturais. Ou seja: é preciso fechar as contas, com corte de gastos e aumento de receita, para então pôr a casa em ordem.
Significa que Levy comprou a guerra e entrou no tudo ou nada. Resta saber o que fará a chefe dele, que parece mais ao vento que biruta de aeroporto e que, aliás, vai se reunir hoje com Lula para discutir o latifúndio do PMDB no governo, o futuro do mandato e o que ela pretende fazer com o país. Ai, que medo!
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