- O Estado de S. Paulo
Se alguém respirou aliviado ontem, depois da reunião do Diretório Nacional do PT, foram os dois personagens mais controversos do momento, cada um à sua maneira e por motivos muitíssimo diferentes: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O PT tem coisas muito mais graves com que se preocupar do que com os dois.
Fossem outros tempos, fosse o PT aquele velho PT de guerra e não fossem o mensalão, a Lava Jato, os filhos de Lula e a crise braba do governo Dilma Rousseff, o que ocorreria numa reunião do partido? Uma condenação duríssima contra Cunha, o vilão da vez, e uma crítica implacável contra a política econômica fiscalista que, certa ou errada, é oposta ao que exige a base social do PT.
Mas o mar não está para peixe. Aliás, nem para tubarão nem para peixinhos como o empresário Luis Cláudio Lula da Silva, o caçula do ex-presidente Lula, que tem uma empresa de marketing esportivo, recebeu R$ 2,4 milhões de um lobista (que não tem nada a ver com esportes) e agora é alvo da Polícia Federal, do Ministério Público e da Receita. “Tem um monte de tubarão e você vai correr atrás de um peixinho?”, reclamou o presidente do PT, Rui Falcão. Mas que peixinho, hein?!
Sendo assim, o Diretório do PT não só mudou muito desde o tempo em que a ética era questão central do partido como mudou também de última hora na intenção de, mais uma vez, malhar o Levy. A crítica política econômica só entrou “em passant”, ninguém sequer se lembrou dos escândalos de Cunha e tudo virou um esforço para convencer a militância de que o partido e Lula são meras vítimas de um complô nacional, quiçá internacional, da “direita”.
Em seu discurso, Lula reclamou do “bombardeio 24 horas por dia” e atribuiu todas as agruras da família PT e da família Lula a uma jogada eleitoral: “Serão três anos de pancadaria (até as eleições de 2018), mas eu vou sobreviver”. E, na resolução final, o partido tratou de desqualificar as investigações da PF, do MP e da Justiça e as notícias sobre elas publicadas pela mídia.
Lê-se na resolução uma condenação a “vazamentos seletivos, prisões abusivas, investigações plenas de atropelo e denúncias baseadas em delações arrancadas a fórceps e sem provas comprobatórias (...) que revelam a apropriação de destacamentos repressivos e judiciais por grupos subordinadas ao antipetismo, que atuam com o intuito de extinguir o PT e difamar o maior líder popular da história brasileira”.
Quem te viu, quem te vê... Foi em parceria com a PF, o MP e os repórteres que o PT passou vinte anos como o garantidor da ética e da moral e derrubando seus adversários políticos. Agora, os velhos aliados foram “apropriados” por “grupos subordinados ao antipetismo”?! Enquanto o diretório se reunia, a PF reafirmava sua independência: além da batida nas empresas do filho de Lula, decidiu também intimá-lo a depor.
Toureando com as instituições e contra o impeachment de Dilma, Lula e o PT decidiram deixar de lado o saco de pancadas Levy e a ameaça ambulante Cunha. Uma vaga promessa de “posição unitária” dos petistas na votação da cassação de Cunha no Conselho de Ética, sem “prejulgamento”, sugere que o partido só quer ganhar tempo. A ideia, tanto do PT quanto de Cunha, é empurrar a decisão do conselho para o ano que vem e, assim, matar dois coelhos com uma cajadada só, ou melhor, salvar Cunha e Dilma. Ele vai ficando, ficando; ela vai levando, levando. PT e Cunha, assim, vivem uma situação de gato e rato: um corre atrás do outro, em círculos, e ninguém confia em ninguém.
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