• Percentual de trabalhadores em busca de vaga bate recorde em agosto
“Quando um membro da família é demitido, três passam a procurar emprego ” Maria Andreia Lameira Técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea
Daiane Costa O Globo
Foi o número de pessoas que ficaram desempregadas em todo o país nos doze meses encerrados em agosto, segundo o IBGE. A taxa de desemprego subiu para 8,7% Mais dois milhões de brasileiros entraram na lista de desempregados do país nos últimos doze meses encerrados em agosto. A taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE subiu para 8,7% no período de junho a agosto, a mais alta da série histórica iniciada em 2012. O total de pessoas procurando trabalho chegou a 8,8 milhões, 29,6% mais do que os 6,8 milhões de igual período do ano passado, quando a taxa de desemprego foi de 6,9%.
— Com a indústria e a construção indo muito mal e o setor de serviços perdendo forças, esperávamos um resultado até um pouco pior para a taxa de desemprego, que deve continuar subindo e encerrar o ano em 9,4% — analisa Silvia Matos, do Instituto de Economia da Fundação Getulio Vargas.
Corte de carteira assinada
O número de empregados com carteira assinada, que garante direitos trabalhistas, recuou 1,2% (menos 425 mil pessoas) frente ao trimestre de março a maio e caiu 3% (menos 1,1 milhão de pessoas) frente a igual trimestre de 2014. Para o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo, a queda do emprego com carteira assinada é a principal responsável pelo aumento da taxa de desemprego:
— A perda do emprego com carteira acaba levando para um mercado que não contrata um número maior de pessoas, aumentando a fila do desemprego. Essa estabilidade (no trabalho) que se perde leva pessoas da família que estavam fora do mercado a procurar emprego para complementar a renda. São jovens que estavam apenas dedicados aos estudos ou adultos com mais de 50 anos que já tinham saído do mercado e agora têm de voltar para recompor a renda familiar — explica Azeredo.
A economista Maria Andreia Lameira, técnica de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reforça:
— Quando um membro da família é demitido, três passam a procurar emprego.
Para Maria Andreia, diante da perspectiva de a economia continuar desacelerando, a tendência de alta da taxa de desemprego só será contida se o comportamento da massa desempregada mudar:
— O que pode ocorrer é as pessoas pararem de procurar trabalho diante da falta de esperança de conseguir uma colocação, o que chamamos de desalento. Isso diminuiria a pressão sobre o mercado e a massa desempregada.
Outro movimento imprescindível para conter a taxa é o crescimento dos grupos que, diante da falta de vagas no mercado formal, passaram a trabalhar por conta própria ou se tornaram empregadores. De acordo com os dados da Pnad, os contingentes de empregadores e de trabalhadores por conta própria cresceram 7,3% e 4,4%, respectivamente, em um ano até agosto.
O rendimento médio real ficou em R$ 1.882 entre junho e agosto. Recuou 1,1% frente ao trimestre de março a maio (R$ 1.904), que serve de base de comparação, e ficou estatisticamente estável em relação ao ano anterior (R$ 1.864). Frente ao trimestre de março a maio de 2015, os trabalhadores domésticos tiveram redução em seus rendimentos (-2,7%), assim como os empregados no setor privado com carteira de trabalho (-1,8%).
Analista prevê piora em 2016
Para os economistas, diante da falta de perspectivas de a economia voltar a crescer em 2016, já que o PIB novamente deve ser negativo, será mais um ano difícil para o mercado de trabalho.
— É bem possível que, logo no início do próximo ano, a taxa de desemprego passe dos 10%. Quando o salário mínimo tiver seu reajuste anual, mais demissões terão de ser feitas para reajustar os custos das empresas. Nossa estimativa é que, de 2014 a 2016, sejam destruídas 3 milhões de vagas com carteira de trabalho — afirma Silvia Matos.
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