Por Andrea Jubé - Valor Econômico
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou ontem à noite em Brasília para uma reunião de avaliação da crise com a presidente Dilma Rousseff. Após a maratona de conversas de emissários de Dilma com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a avaliação no Palácio do Planalto era de que o governo, com a ajuda do Supremo Tribunal Federal, obteve uma "trégua" com o pemedebista, que apesar das denúncias contra si, ainda detém em mãos a caneta que pode deflagrar o impeachment.
Lula volta a Brasília na semana em que a temperatura foi às alturas, quando o PT receava que Cunha despachasse o principal pedido de impeachment. A avaliação no palácio, ontem à noite, contudo, era de que a intervenção do Supremo no processo afastou, por ora, a sombra do impeachment. Uma fonte do palácio diz que ambos os lados - Cunha e o governo - têm interesse no "armistício".
Um deputado do PT confirmou ao Valor que a "temperatura esfriou" após as três liminares do Supremo. Mas o petista ressalva que ainda não há garantia de resolução da crise. "Há uma maioria silenciosa na Câmara sobre a qual não temos controle, não sabemos como se comportará se o processo for aberto", alerta.
Dilma chegaria de noite a Brasília, do périplo no interior de São Paulo, para encontrar com Lula, o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, no Palácio da Alvorada.
Nos últimos dias, Wagner foi interlocutor frequente de Cunha na crise. Também coube ao vice-presidente Michel Temer aprofundar o diálogo com Cunha. A expectativa era que ontem à noite, Temer e Wagner se reunissem antes do petista seguir ao encontro de Dilma e Lula.
Em outra frente, cabe ao ministro Ricardo Berzoini e ao assessor especial Giles Azevedo reorganizarem a base aliada a fim de barrar o impeachment caso seja colocado em votação. A estratégia é impulsionar a distribuição dos cargos de segundo e terceiro escalão para debelar a insatisfação geral e evitar que a oposição reúna 342 votos pró-impeachment.
Presidentes de partidos aliados foram informados de que as nomeações serão publicadas no Diário Oficial nos próximos dias. Berzoini defende que a base aliada sinta que efetivamente faz parte do governo que apoia, diz um interlocutor do ministro.
Os primeiros sinais são de que Dilma liberou o regime de "porteira fechada" nos ministérios. O processo começou ontem pelos pemedebistas.
O novo ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB-PI), nomeou para a secretaria-executiva da pasta o ex-ministro Agenor Álvares, que substituiu um nome do PT. Álvares é uma indicação do ex-ministro e hoje deputado Saraiva Felipe, do PMDB de Minas Gerais. Ambos foram ministros da Saúde no governo Lula, e Álvares sucedeu a Felipe. O nome de Saraiva Felipe foi aventado pelo PMDB, para a pasta mas teve a indicação barrada por Dilma.
De igual forma, o novo ministro dos Portos, Hélder Barbalho, do PMDB, manteve na secretaria-executiva o ex-senador Luiz Otávio de Oliveira, seu conterrâneo do Pará. Luiz Otávio também era secretario-executivo de Hélder na Secretaria da Pesca, que foi extinta na reforma administrativa. A nomeação de Luiz Otávio saiu ontem no Diário Oficial.
Outra nomeação do PMDB foi Roberto Derziê de Sant'Anna para uma vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Ele havia deixado o cargo em junho para trabalhar com o vice-presidente Michel Temer na articulação política.
fala, no entanto, que cada vez que Lula critica a política econômica enfraquece Levy e a adesão da base às votações. O plenário vazio que o ministro enfrentou ontem na Câmara é um dos sinais.
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