• Cássio Cunha Lima diz que partido não pode ter ‘ ética seletiva’ e pede coerência
Maria Lima, Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Evandro Éboli - O Globo
- BRASÍLIA- A proximidade do PSDB da Câmara com o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), abriu uma crise na cúpula tucana. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima ( PB), disse ontem que o PSDB “está errando” e não pode ter uma “ética seletiva”, numa referência ao fato de defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas ter uma postura bem mais amena quanto à Eduardo Cunha, que já é alvo de processo protocolado no Conselho de Ética da Câmara devido às denúncias de que tem contas na Suíça.
Cássio disse que propôs ao presidente do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), uma reunião da Executiva Nacional do partido para definir uma posição oficial da legenda.
— O que não pode é ter uma ética seletiva. Se queremos ética, ela tem que ser para tudo e para todos. Não pode ser para alguns, de acordo com as nossas conveniências e interesses. Temos que ter coerência. Nesse episódio, o PSDB, no mínimo, pecou por lentidão. O PSDB da Câmara está errando. Este assunto não pode nem ficar na liderança da Câmara e nem na liderança do Senado. A Executiva do PSDB precisa se reunir e deve se para deliberar sobre isso — disse o senador.
“Leilão para ver quem dá menos pela ética”
Ao falar da “ética seletiva”, Cássio Cunha Lima disse que tanto Cunha como Dilma mentiram e que, portanto, o tratamento do partido deve ser o mesmo para os dois. Cássio disse que Cunha está fazendo “um leilão” entre governo e oposição para ver quem pode ajudá- lo. Para ele, a permanência de Cunha na Presidência da Câmara é “insustentável”.
— O presidente da Câmara faz um leilão para ver quem dá menos pela ética. É impressionante como o Brasil está submetido a esse tipo de discussão. Ele usa o poder que tem para ver por onde que pode escapar mais facilmente. É uma situação que não pode mais ser tolerada, que não pode mais ser admitida. Quando a política envereda para esse rumo, é porque estamos no final do túnel — disse Cássio, acrescentando:
— A situação do deputado Eduardo Cunha é insustentável como presidente da Câmara. Nesta condição, ele não tem mais como exercer esse mandato, pela peculiaridade do cargo e pela pedagogia péssima que se traz para a sociedade.
A intervenção do Supremo no rito do processo de impeachment e a reaproximação de Cunha com o governo provocaram um clima de desânimo entre os integrantes da oposição, que estavam articulando a reapresentação do pedido de impeachment apresentado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Para piorar, o PSB, que em reunião da Executiva avaliaria a possibilidade de romper com o governo, cedeu à pressão dos governadores do partido, recuou e declarou independência crítica, sem apoio ao impeachment.
Ontem, tucanos e democratas davam como certo que Cunha não irá aceitar o pedido de impeachment, para continuar tendo uma arma apontada para o Planalto. Até anteontem, o deputado Fernando Bezerra ( PSB- PE) participava de reuniões da oposição com Cunha para discutir estratégias do impeachment.
A notícia do recuo do PSB esfriou ainda mais os ânimos entre os oposicionistas.
— O PSB saiu? Então melou geral — avaliou um dos líderes do bloco.
Na oposição, discurso agora é pessimista
Entre os líderes oposicionistas, a palavra mais repetida é “cansaço”. Muitos dizem ser preciso voltar o foco para a atuação parlamentar e para as bases eleitorais, que ficaram negligenciadas durante todo este ano, enquanto eles concentravam todas as forças para viabilizar o impeachment. Há um cálculo de que, se nos próximos 15 dias o impeachment não avançar, ele poderá ser definitivamente descartado.
Há a avaliação de que as liminares do Supremo, que proíbem o recurso ao plenário para desarquivar pedidos de impeachment, e a nota divulgada por líderes oposicionistas pedindo o afastamento de Cunha da presidência da Câmara, foram um “divisor de águas”.
— Cunha agora vem dizer que foi usado pela oposição. Foi ele quem usou a oposição para cavar uma ponte para negociar com o governo. Agora vem dizer que ficou irritado por causa de uma simples nota? Alguém vai acreditar nisso? — desabafou um líder da oposição.
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