• Em troca de apoio do governo, deputado travaria pedidos
Cunha negocia acordo com governo para salvar mandato
• A contrapartida do peemedebista seria barrar os pedidos de impeachment
• Apesar da desconfiança mútua, os dois lados avaliam que precisam de um acerto para sobreviver à crise
Ranier Bragon, Débora Álvares, Marina Dias, Gustavo Uribe e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o governo negociaram os termos de um acordo para de um lado, salvar o mandato do deputado e, de outro, evitar um processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
Cunha e assessores presidenciais vinham ensaiando essas negociações nos últimos dias. Nesta quarta (14), elas foram acertadas na busca do que é classificado, dentro do governo, de um "armistício" visando tirar a temperatura da crise política.
O acordo tácito foi tema de um almoço entre o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e gira em torno de dois pontos básicos.
O primeiro é a garantia pelo governo e pelo PT de que o Conselho de Ética não vai aprovar um parecer pela cassação de Cunha. O pedido, feito pelo PSOL e pela Rede e assinado por 34 dos 62 petistas, começará a tramitar no final do mês no colegiado.
O segundo é que o presidente da Câmara, do seu lado, deixaria de tomar decisões sobre pedidos de impeachment contra a petista, inviabilizando a tramitação de processos do gênero.
O almoço entre Temer, Cunha e Renan foi realizado depois que o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) pediu ao vice que ajudasse numa aproximação com o presidente da Câmara. Durante o encontro dos peemedebistas, Cunha teria dito que não tem "nenhum interesse" em sacrificar Dilma se o PT também não sacrificá-lo no Congresso.
Um assessor do governo disse à Folha que as negociações não visam fechar um acordo formal, o que seria impossível politicamente, mas uma "trégua ou armistício" para acalmar os ânimos. E, alguns reconhecem, é um acordo que pode ter vida curta dependendo do que vier pela frente contra ambos.
À noite, Temer relatou a Wagner a conversa com Cunha. Apesar da desconfiança mútua, os dois lados avaliam que, neste momento, precisam desse acordo para sobreviverem politicamente. Até o ex-presidente Lula, um dos entusiastas da tática de não agressão à Cunha, desembarcou em Brasília para traçar estratégias visando barrar um eventual impeachment.
Nas palavras de um assessor palaciano, o "patrimônio de Cunha hoje é não decidir nada" sobre o impeachment. Do lado do peemedebista, a avaliação é que, pela primeira vez, ele precisa buscar confiar no governo, com o qual esteve em guerra, para não ter seu mandato cassado.
O governo, com o PMDB, tem maioria para travar a tramitação de um processo de cassação no Conselho de Ética. O órgão tem 21 integrantes, sendo 9 do bloco comandado pelo PMDB. Somados os 7 do bloco liderado pelo PT, há número suficiente para barrar o processo contra o peemedebista.
Cunha tem apelado a aliados e ao governo para que não seja aprovada a sua cassação no colegiado. O parecer do conselho, aprovando ou rejeitando a cassação do deputado, precisa ser submetido ao plenário da Casa, em votação aberta, de qualquer maneira.
Mas, na avaliação de aliados de Cunha, se o colegiado votar contra a cassação, há mais chances de o plenário fazer o mesmo. Para que haja a cassação, é preciso apoio de pelo menos 257 dos 512 colegas de Cunha na Casa.
O presidente da Câmara é acusado de integrar o esquema de corrupção na Petrobras, sob suspeita de ter recebido dinheiro de propina em contas secretas na Suíça. Em depoimento à CPI sobre a estatal, ele negou ter dinheiro no exterior. Se ficar comprovado que Cunha mentiu aos colegas, sua situação se agravará.
Nas tratativas sobre o acordo, segundo assessores presidenciais, o peemedebista foi avisado de que o governo não tem condições de oferecer ajuda para barrar processos contra ele no STF ou no Ministério Público.
Cunha também pressiona Dilma a demitir o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). A petista, porém, resiste a afastar seu auxiliar.
Resultado dessas negociações, líderes petistas já estão articulando para que o partido não feche questão no Conselho de Ética sobre o processo de Cunha. Questionado nesta quarta sobre as negociações com o governo, Cunha disse que não "há nem guerra nem trégua" com nenhum dos lados.
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