Por Raymundo Costa e Maíra Magro - Valor Econômico
BRASÍLIA - A disputa entre a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, em torno do impeachment recrudesceu menos de 24 horas após os dois terem acertado manter uma "relação institucional". O campo de batalha, agora, é o cargo de líder da bancada do PMDB na Câmara, ocupado até quarta-feira pelo deputado Leonardo Picciani (RJ), do grupo dilmista. Numa manobra abençoada por Temer, a bancada destituiu Picciani e colocou em seu lugar o deputado Leonardo Quintão (MG). Agora, o Palácio do Planalto ajuda Picciani a tentar retomar o cargo.
Segundo fontes do PMDB, Dilma telefonou ontem para o ministro dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, indicado ao cargo pelo Partido da República (PR), pedindo sua colaboração para que um deputado do Rio troque o PR pelo PMDB, a fim de ajudar na formação de maioria para Picciani.
Na conversa que tiveram na noite de quarta-feira, Temer sugeriu a Dilma não interferir na vida partidária. Fontes do grupo pró-Temer disseram que, se a filiação do deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) ao PMDB se confirmar, será pedida sua impugnação na Executiva Nacional do partido, que é presidido por Temer. A manobra do PMDB do Rio envolve também a volta de alguns secretários de Estado, que retomariam seus mandatos em Brasília. Se der certo, pode elevar o número da bancada de 9 para 16 deputados e permitir que Picciani volte à liderança.
O vice-presidente de Programas de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, foi exonerado ontem pela presidente. Ele é reconhecido na Caixa como apadrinhado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, relator da ação que questiona o processo de impeachment da presidente Dilma, quer uma solução para o assunto na próxima quarta-feira. "Não é conveniente postergar esse julgamento e não precisa", disse. Os ministros Marco Aurélio Mello e Luís Roberto Barroso também defenderam que o STF resolva a questão o mais rapidamente possível.
Dilma entra na guerra pemedebista
A disputa em torno do impeachment entre a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, recrudesceu menos de 24 horas após os dois terem conversado no Palácio do Planalto e acertarem uma "relação institucional" entre ambos. O campo de batalha agora é o cargo de líder da bancada do PMDB na Câmara, ocupado até última quarta-feira pelo deputado Leonardo Picciani (RJ), do grupo dilmista.
Numa manobra abençoada por Temer, a bancada destituiu Picciani e colocou em seu lugar o deputado Leonardo Quintão (MG). Segundo fontes governistas do PMDB, Temer jogou duro com os deputados que insinuaram que não seguiriam sua orientação. Agora o Palácio do Planalto ajuda Picciani a tentar retomar o cargo.
Segundo aliados de Temer, Dilma telefonou ontem para o ministro dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, nomeado para o cargo por indicação do Partido da República (PR), a fim de pedir sua benção para que um deputado do Rio de Janeiro troque o PR pelo PMDB, para ajudar na maioria a Picciani.
Dilma teria telefonado de Buenos Aires, onde se encontrava para a posse do presidente Mauricio Macri. "Em absoluto essa história procede. Essa cena não existiu", disse uma fonte autorizada do Planalto ao Valor. Já o ministro dos Transportes se limitou a dizer que "não tem nenhum deputado saindo do PR" para o PMDB. Rodrigues não fez comentário sobre a suposta ligação.
Na conversa que tiveram na noite de quarta-feira, Temer sugeriu a Dilma não interferir na vida partidária, pois isso poderia gerar problemas políticos de grande repercussão. O Planalto confirmou que Temer fez a sugestão, negou que a presidente esteja de alguma forma interferindo nos partidos. Atribui a informação a uma guerra de versões interessada em afastar o PMDB da presidente.
Se a filiação em questão do deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) ao PMDB se confirmar, integrantes da bancada pró-Temer devem pedir sua impugnação na Executiva Nacional do PMDB, que é presidida por Temer. "Deputado que entrar no PMDB dessa forma terá a filiação impugnada", disse um aliado de Temer. A transferência de Cortes está sendo articulada pelo PMDB do Rio, numa negociação que envolve cargos na prefeitura do Rio e no governo do Estado.
A manobra do PMDB do Rio envolve também a volta de alguns secretários de Estado, que retomariam seus mandatos, para Brasília. Se der certo, pode elevar o número de bancada carioca de nove para 16 deputados. A articulação é comandada pelo governador Luiz Fernando Pezão e pelo prefeito Eduardo Paes e conta com o aval palaciano.
Antes mesmo de Temer deixar o Palácio do Planalto, no plenário do Senado se desenvolvia outro capítulo de uma guerra que deixou de ser surda. No plenário, mesmo contra à vontade, o PT votou a favor de uma emenda constitucional que abre uma janela de 30 dias para o troca-troca partidário, pressionado pelo Planalto - o placar foi de 63 a zero.
O troca-troca partidário foi contido por decisão da Justiça Eleitoral segundo a qual o mandato é dos partidos e não do parlamentar. Depois disso, os partidos passaram a exigir a devolução do mandato dos deputados e senadores que procuraram outras legendas, sem um motivo previsto em lei. Dilma teria ligado para Rodrigues justamente para pedir que o PR aliviasse o deputado Côrtes.
A pressão agora é sobre o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL). O Palácio do Planalto quer que Renan faça a promulgação da emenda ainda neste mês, para viabilizar a manobra em andamento no governo para inflar a bancada do PMDB de deputados governistas e tentar reconduzir Picciani para a liderança. De outro lado, a Executiva do PMDB pressiona Renan para adiar a promulgação da PEC para fevereiro, quando termina o mandato de Picciani. A cúpula do PMDB já conseguiu convencer senadores do núcleo de Renan de que o adiamento pode ser melhor, dando-se tempo para serenarem os ânimos e a ampliação das conversas. Entre os senadores do PMDB, nem todos estão interessados no impeachment, e não foi a presença de Temer no jantar do senador Eunício Oliveira (CE) que mudou esse cenário.
Na guerra pela volta de Picciani, tem até um ingrediente familiar. Governistas dizem que o senador Jader Barbalho (PA) deve interceder para que sua mulher, a deputada Simone Morgado (PMDB-PA), retire o apoio a Leonardo Quintão, enquanto o ministro dos Portos, Hélder Barbalho, faria o mesmo pedido à mãe, a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA). "Que mãe nega o pedido de um filho?" ironizou um integrante da ala governista.
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