• Nomeações para manter Leonardo Picciani na liderança da Câmara provocam guerra no partido; Lúcio Vieira Lima afirma que artifício vai prejudicar planos nacionais do prefeito do Rio, Eduardo Paes
Isabel Braga, Júnia Gama, Eduardo Bresciani Catarina Alencastro - O Globo
-BRASÍLIA- A guerra pela liderança do PMDB na Câmara entre os dois Leonardos, o mineiro Quintão e o fluminense Picciani, ganha contornos inusitados. Houve até deputado de outro partido — Alexandre Serfiotis (PSD-RJ) — nomeado no Diário Oficial de quarta-feira secretário especial de Ciência e Tecnologia do município do Rio. O problema é que ele jura que não sabia da nomeação. Sem papas na língua, o líder da ala rebelde da bancada, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDBBA), disparou ontem:
— Querem transformar o PMDB em um motel. Porque é só no motel que tem essa alta rotatividade, de entrar num dia e sair no outro — afirmou Vieira Lima, para quem a movimentação coloca em risco os planos nacionais do prefeito Eduardo Paes:
— Ele está emperrando definitivamente uma possível candidatura à Presidência da República porque ajuda a desunir mais o partido.
A saída de Serfiotis do mandato abre espaço para que o suplente Wilson Silva Beserra (PMDB) assuma para ajudar Picciani a recuperar a liderança. O grupo de Quintão tem o apoio de 35 peemedebistas. Circulando ontem pelos corredores da Câmara, Serfiotis demonstrava perplexidade com a situação e contou que soube da nomeação pelo colega de bancada Sóstenes Cavalcanti (PSD-RJ):
— Eu não sei o cargo. Fui avisado pelos amigos. Mas estou aqui como deputado, já dei presença na Casa, gravei na TV Câmara hoje (ontem). Posso não aceitar, não tive curiosidade de ver o cargo. Sou PSD, não sou PMDB, não tenho nada a ver com isso.
Caso aceite, o deputado terá de avisar à Câmara, pois não pode ocupar os dois cargos sob o risco de perder o mandato. O site da Câmara já informa, porém, a saída e a volta relâmpago do peemedebista Zé Augusto Nalin (PMDB-RJ): saiu no último dia 9 para que o titular Marco Antonio Cabral (PMDB) reassumisse, e ganhou de volta outra cadeira no dia 10, com a saída de Walney Rocha (PTB) para assumir uma pasta no município do Rio.
Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também engrossou o coro das críticas à movimentação de Picciani:
— É uma guerra que não vai parar. O ideal era que se fizesse uma nova eleição, tem que se resolver isso politicamente, e não no tapetão.
Picciani defende nova eleição para líder, embora seus aliados admitam não ter número suficiente para ele seja reeleito. Contabilizam o apoio de 30 nomes. Há deputados constrangidos com a batalha de assinaturas. Ao menos dois deles — Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Silas Brasileiro (PMDB-MG) — teriam dito que não assinarão as listas.
A exoneração do secretário de Governo da prefeitura do Rio, Pedro Paulo Teixeira, prevista para ocorrer até o final desta semana para reforçar o time de Picciani foi postergada. Para o grupo, traria um grande desgaste.
No Palácio do Planalto, a avaliação é que o governo pode contar com pelo menos metade do PMDB, porque nem todos os 35 que assinaram o pedido para destituir Picciani votam contra o governo. É o caso da mãe do ministro Hélder Barbalho, Elcione Barbalho (PMDBPA), que assinou o documento pró-Quintão, mas deve votar contra o impeachment. Oficialmente, o governo evita polemizar sobre a decisão do partido. O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, diz que não foi informado da troca de líder:
— Esse procedimento só será avaliado a partir do momento em que formos comunicados. Respeitamos a autonomia do PMDB.
De qualquer forma, o momento político gerou mudanças de estratégias na articulação política do governo.
— O ambiente em Brasília é de conspiração. Ninguém confia em ninguém — avalia um líder da base governista.
Segundo ele, esse entendimento é partilhado por Berzoini. Por conta disso, o ministro adotou nova tática e ontem começou a ouvir os aliados reservadamente. Recebeu, um a um, os líderes Maurício Quintela (PR), Dudu da Fonte (PP) e Jandira Feghali (PC do B). Os únicos que entraram juntos no gabinete de Berzoini foram os petistas Sibá Machado e José Guimarães, líder do PT e do governo, respectivamente. Berzoini costuma reunir os líderes todos juntos semanalmente.
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