• Cúpula tucana se reúne para afinar discurso; ex-presidente diz que já é preciso pensar na agenda de reformas
Maria Lima - O Globo
-BRASÍLIA- Sob o comando do presidente de honra do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os seis governadores do partido, o presidente nacional da sigla, senador Aécio Neves (MG), e líderes das bancadas tucanas na Câmara e no Senado definiram uma posição conjunta em apoio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A reunião foi realizada, segundo Aécio, para unificar o discurso e estratégias sobre o papel do PSDB “com serenidade”, junto aos movimentos de rua, ao Congresso, ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral.
FH disse que há razões jurídicas para aprovar o impeachment, mas frisou que é preciso discutir reformas subsequentes: da Previdência e do sistema eleitoral .
— As razões são suficientes (para aprovar o impeachment). Como foi dito pelo vice-presidente Michel Temer em seu livro, esse é um processo jurídico/político. A presidente desrespeitou reiteradamente a Lei de Responsabilidade Fiscal, tendo em vista a circulação de muito recurso lateral para programas sociais em ano eleitoral. É preciso se formar o clima político. Se esse clima político não se formar, não há nada que derrube um presidente, que foi eleito. Mas o clima atual é que o Brasil está paralisado, e um país como o Brasil não pode ficar parado, esperando que as coisas se resolvam por si só — disse o ex-presidente.
Os líderes e Aécio garantiram que os governadores fecharam questão para apoiar o impeachment. Estiveram presentes os governadores Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO), Simão Jatene (PA) Pedro Taques (MT), Beto Richa (PR) e Reinaldo Azambuja (MS).
— Há um sentimento no PSDB que o impeachment ganha força, e o esforço do partido é que esse debate se dê dentro do que propõe a peça assinada pelos juristas, com a acusação de que a presidente Dilma cometeu crime de responsabilidade. Estaremos apoiando os movimentos de rua, mas com muita serenidade. O PSDB, com seus governadores e líderes, está coeso, convergente e sabendo qual será o seu papel no futuro. Foi uma reunião para afinar a orquestra — disse Aécio.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, falou em nome dos demais chefes dos executivos estaduais. Disse que a grande discussão é se o atual pedido de impeachment de Dilma tem amparo constitucional. Ele acha que sim.
— Não é um pedido golpista. Tanto é que o PT pediu impeachment dos presidentes Itamar Franco, Fernando Henrique e só não pediu de Lula porque era petista. O PT é o rei do impeachment — disse Alckmin.
O governador do Paraná, Beto Richa, disse que a posição dos governadores foi unânime. A avaliação repassada pelos líderes é que aumentam a cada dias as chances de aprovar o afastamento de Dilma. Richa disse não temer retaliações do governo federal:
— Sempre fui tratado a pão e água. Essa é uma decisão partidária — disse Richa.
Mas as preocupações dos brasileiros, disse Fernando Henrique, não podem parar só na aprovação do impeachment de Dilma. Ele afirmou que é preciso fazer reformas e que não basta trocar o chefe do Executivo:
— Não para nisso. E o que vamos fazer? É preciso mudar o comportamento ético, o sistema eleitoral, que está falido, não funciona mais. Não é possível continuar com a atual desordem orçamentária. Há um ônus muito grande a ser resolvido também na Previdência — disse FH.
Questionado se, numa eventual impedimento de Dilma e posse do vice Michel Temer, o PSDB integraria um governo de transição, FH brincou:
—Aí você pergunta para o presidente do PSDB.
— Os governadores vieram respaldar as bancadas a favor do impeachment. Todos os governadores estão agora alinhados. O após fica para depois — confirmou o líder Cássio Cunha Lima.
“Estou sempre na rua”, diz FH
O governador do Pará, Simão Jatene, disse que o PSDB só pensará em apoiar um futuro governo de transição, se houver uma proposta de reformas profundas:
— Não pode ser um governo repaginado para nos levar lá na frente ao que enfrentamos hoje. Se for para manter o que está aí, certamente o PSDB não vai apoiar — disse Jatene.
Sobre os movimentos de rua programados para este domingo, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), disse que não há expectativa de grandes multidões, porque é apenas um “esquenta” para uma outra grande manifestação a ser agendada. Fernando Henrique disse que apoiará esses movimentos, mas não sabe se estará na rua.
— Eu estou sempre na rua — brincou.
Sobre a ação que o PSDB vai apresentar à Procuradoria-Geral da República contra o uso, pela presidente Dilma, da máquina do governo em sua luta contra o impeachment, Fernando Henrique disse que essa prática é errada, mas não se trata de um pecado mortal.
— Graves são outras coisas que a Operação Lava-jato está desvendando — disse o ex-presidente.
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