- O Globo
Armínio: “Confiança não volta com Dilma no poder.” O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse que o país está à deriva e que teria que acontecer uma metamorfose na presidente Dilma Rousseff para que ela encontrasse uma solução para os problemas econômicos. Ele acha que o Brasil precisa de uma resposta “clara, contundente, cheia de convicção” para que ocorra uma reversão das expectativas.
Armínio disse que não estava advogando o impeachment, mas acha que, se ocorrer, pode abreviar a solução para a crise econômica. Ele não acredita que a mudança na confiança dos empresários possa acontecer com a presidente Dilma no poder.
— Só uma metamorfose muito grande na presidente para que dela saia alguma coisa. Ela já confirmou e reconfirmou que tem uma certa visão de governo, de país, e de economia que está explodindo — disse ele.
O economista que trabalhou na campanha do candidato derrotado Aécio Neves comparou o Brasil a um caminhão que está descendo um despenhadeiro.
— Hoje as pessoas estão com medo de perder seus empregos e as empresas não têm razão para investir. O investimento caiu 20% nos últimos dois a três anos. Não é uma respostinha burocrática que vai resolver. Só uma mudança de regime pode acertar — disse ele em entrevista que me concedeu ontem na Globonews.
Para Armínio, o problema do Brasil não é apenas conjuntural. Já é estrutural e exige a reforma do Estado. O erro teria começado no governo Lula:
— Começou lá atrás. O Brasil fez uma mudança de modelo ainda no governo Lula, mas as commodities continuavam subindo e ele havia acumulado capital de credibilidade. A coisa funcionou. Já entrando no governo Dilma, essa mudança foi reforçada: esse modelo de economia mais fechada, com a mão pesada do Estado agindo de forma regressiva do ponto de vista social. A confiança foi se esvaindo.
O Brasil no primeiro mandato da presidente Dilma cresceu muito menos do que o resto da América Latina. E no final ela fez a grande aposta de ir mais fundo no modelo que havia escolhido. Aí realmente tirou o lado fiscal tão duramente construído. Cavou um buraco, abandonou as metas de superávit primário, e a dívida entrou em trajetória de crescimento galopante. Foi grave. Uma expansão fiscal de 4 a 5 pontos do PIB. A economia vinha há muito tempo nos trilhos e agora descarrilou de vez.
Armínio alerta que o gasto do governo passar de 40% do PIB, para um país de renda média, é muito alto, e a recessão tende a agravar o rombo porque a receita cai:
— Em outras áreas surgem prejuízos, como resultado de políticas mal desenhadas, como na Petrobras, por exemplo, que tem uma dívida espantosa. Os bancos públicos estão com suas carteiras bastante machucadas. O governo tem uma dívida muito alta, que está crescendo muito rápido. É um circulo vicioso. Isso cria tensão enorme.
Sobre o esforço para derrubar a inflação, o economista disse que o Banco Central sozinho não resolve, se outras políticas não derem amparo. Armínio disse que não está preocupado com um novo possível rebaixamento, apesar de admitir que isso poderá levar a uma pressão maior sobre o dólar. O que o preocupa, disse, é o fato de que o Brasil vive uma situação “duríssima, dolorosa” e não consegue crescer. “A economia está muito desarrumada”.
Na lista do que fazer, ele disse que é preciso repensar o Orçamento brasileiro, olhando cada item de despesa, desvinculando e desindexando. Sobre a Lava-Jato, disse que, como cidadão, está aplaudindo, e as ações policiais e judiciais devem continuar, mas, como economista, admite que tem consequências, a curto prazo.
Há uma agenda boa, segundo ele, no esforço para aumentar a produtividade do país, que vai desde consertar o que foi feito de errado no setor elétrico até facilitar o fluxo de mercadorias entre estados. Segundo Armínio, é mais fácil exportar do Canadá para a França, do que vender de Minas para São Paulo. O economista admitiu que muita gente está falando em sair do Brasil:
— As instituições estão funcionando. Eu digo isso: não joguei a toalha, pelo contrário, meus sócios e eu recompramos a nossa empresa. Eu entendo que as pessoas de repente se cansem. Há os que têm condições para irem embora, mas há outros que vão sem emprego. São, em geral, empreendedores, e dá dó perder essas pessoas.
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