Por Bruno Peres e Maíra Magro - Valor Econômico
BRASÍLIA - Em um encontro que reuniu governadores do PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, as principais lideranças do partido afirmaram ontem que o impeachment da presidente Dilma Rousseff está previsto na Constituição e não pode ser considerado um movimento golpista. O próprio governador paulista, Geraldo Alckmin, que era um dos tucanos mais reticentes com a hipótese de afastamento da petista, saiu em defesa do andamento do processo.
"Impeachment não é golpe. Aliás, o PT era o rei do impeachment, porque ele entrou com pedido de impeachment contra [os ex-presidentes Fernando] Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Só não entrou contra o Lula porque era do PT. Então, não. O impeachment é previsto na Constituição brasileira", disse Alckmin, horas antes de participar do jantar com os correligionários em Brasília.
Na reunião, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), ressaltou que o processo de afastamento de Dilma ganha força e o partido está coeso e consciente de sua responsabilidade. "Temos que ter a serenidade para discutir a questão, não como vem fazendo a presidente da República, se defendendo de acusações que não lhe são feitas e se omitindo daquelas que foram formalizadas", afirmou o senador sobre a acusação de que a presidente teria cometido crime de responsabilidade fiscal.
Já FHC rebateu as declarações de governistas e observou que as razões para o impeachment são suficientes por se tratar de um processo jurídico e político. O ex-presidente ressaltou que desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, tendo em vista benefícios eleitorais, é uma "razão consistente", sobretudo se houver clima político.
"Não é um processo simples, que se possa fazer como desejo. Me parece que o clima atual é de que o governo está muito paralisado. Um país como o Brasil não pode ficar esperando que as coisas se resolvam por si, precisa de ação política", afirmou FHC, acrescentando que é preciso debater questões que vão além do impeachment, como o comportamento ético, o sistema eleitoral, o controle de gasto público e a Previdência Social.
Mais cedo, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), também tinha comentado em outro evento a hipótese de impeachment e o cenário político. O pemedebista criticou o correlegionário e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao afirmar que ele coloca seus interesses particulares acima dos interesses do país. Por esse motivo, Pezão acredita que a permanência de Cunha no cargo "fica difícil". O pemedebista participou junto Alckmin de solenidade no Supremo Tribunal Federal (STF) para homologar acordo de gestão das águas do Rio Paraíba do Sul.
Para Pezão, a pauta da Câmara deveria ser mais proativa. "Um chefe de Poder e um Poder tão importante, onde estamos precisando discutir uma pauta de governabilidade, uma pauta que não seja pauta bomba, estamos discutindo essas questões. Isso não soma. Estamos indo para dois dígitos em desemprego, acho um desserviço ao país não estarmos com uma pauta proativa", avaliou.
Pezão minimizou ainda o fato de a bancada de seu partido estar rachada na Câmara quanto ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Quando que o PMDB não foi rachado? O PMDB está sempre rachado, às vezes em três, quatro frentes". Ele avaliou, porém, que "há muito mais gente favorável à governabilidade que ao impeachment". (Colaborou Thiago Resende)
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