Por Andrea Jubé, Bruno Peres e Cristiane Agostine – Valor Econômico
BRASÍLIA e SÃO PAULO - A dois dias do protesto a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, apoiado pela oposição, o governo intensificou as reuniões com os movimentos sociais e sindicais, a fim de garantir mobilizações contrárias ao afastamento da petista. Ontem, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, conduziu reuniões com entidades como CUT, UNE e MST e reitores de escolas técnicas federais, e afirmou que, em meio a reivindicações específicas, existe "de maneira conjunta, o apoio ao Estado democrático de Direito, à legalidade e contra o golpe que se tenta praticar contra a democracia".
No domingo, grupos como o Vem pra Rua farão o primeiro ato em favor da saída de Dilma desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou a abertura do processo de impeachment da presidente. Já os movimentos sociais e sindicais, com apoio do PT, vão às ruas no dia 16, em defesa do mandato de Dilma e da democracia.
O governo está apreensivo porque a voz corrente no Congresso Nacional é que o julgamento será "político" e os parlamentares serão influenciados pelas ruas, caso milhões de brasileiros peçam a deposição de Dilma. "Evidentemente é natural que aqueles que têm simpatia ou contrariedade com essa proposta façam tentativas de mobilização", minimizou Berzoini.
Pela Frente Brasil Popular, que reuniu-se ontem por cerca de duas horas com Berzoini, compareceram representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da União Nacional dos Estudantes (UNE), da Contag, da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu uma "trégua" aos movimentos sociais que protestam contra o governo por causa do ajuste fiscal, a fim de que se unam em apoio a Dilma e à democracia. Alguns movimentos, como o dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) sairão às ruas em defesa da democracia, mas não do governo.
Segundo relatos de participantes do encontro de ontem, Berzoini procurou mostrar disposição em ouvir as demandas dos movimentos populares e reforçou que é preciso apoio à democracia, porque o momento político é muito delicado.
Dirigente da CUT, Janeslei Aparecida Albuquerque afirmou que os movimentos sociais reiteraram apoio "não a Dilma, mas sim a seu mandato de presidente e ao resultado eleitoral". "O país não pode virar uma republiqueta, com a deposição da presidente porque quem perdeu não aceita o resultado das urnas", disse Janeslei, secretária de mobilização e relação com movimentos sociais da CUT. Apesar do descontentamento com o governo, sobretudo com a política econômica, as entidades afirmaram que "um golpe está em curso" e que é preciso ir às ruas "para preservar a democracia", segundo a dirigente sindical.
Representando o Levante Popular da Juventude, Carla Bueno relatou que os movimentos populares se colocaram "à disposição do governo para defender a democracia". "O governo precisa dar um aceno para os movimentos sociais de que vai mudar essa política econômica. Desde a reeleição de Dilma, só tivemos retrocesso", disse Carla. "Mas nossa democracia é muito nova para sofrer um trauma como esse".
Presidente da CUT, Carina Vitral disse que apesar das divergência sem relação ao governo, os movimentos sociais estão unidos para protestar contra o impeachment no dia 16. "Não condicionamos o nosso apoio contra o impeachment a uma mudança nos rumos do governo. Não condicionamos o apoio a nada. A democracia é um valor inegociável e não há base legal para o impeachment", disse a dirigente estudantil.
Berzoini também se reuniu com reitores e pró-reitores de 41 instituições federais - universidades e institutos técnicos -, que entregaram ontem uma carta de manifestação contrária à abertura do processo de impeachment.
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