Gustavo Uribe, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo
Com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputados e líderes do PMDB favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff iniciaram articulação para antecipar para janeiro convenção nacional do partido para decidir sobre o rompimento da legenda com o governo federal.
Em retaliação a movimento do Palácio do Planalto para restituir Leonardo Picciani (PMDB-RJ) para a liderança da bancada do partido, dirigentes e parlamentares mobilizam diretórios estaduais a ingressarem na semana que vem com pedido na Executiva Nacional do PMDB solicitando o adiantamento do encontro nacional.
Pelos cálculos do grupo favorável ao afastamento da petista, quinze estariam dispostos a solicitar formalmente à direção da legenda a convocação da convenção nacional em caráter extraordinário, entre eles do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.
Para antecipá-la, o regimento interno do partido prevê dois dispositivos: a convocação extraordinária pela Executiva Nacional do PMDB ou por pelo menos um terço dos diretórios estaduais do partido, ou seja, a partir de nove.
"A relação com o governo federal está em ebulição e obviamente o partido deve e vai discutir se continua ou não com o governo federal. Há movimento para convocação de convenção extraordinária. Ela está prevista para março, mas pode ser antecipada", disse o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Com o apoio do vice-presidente Michel Temer, Leonardo Picciani foi destituído da liderança do PMDB. Em seu lugar, foi colocado Leonardo Quintão (MG), relator do novo código de mineração, mas que foi financiado nas últimas eleições por empresas ligadas ao setor.
Além de ter recebido R$ 1,8 milhão de companhias ligadas à mineração, o novo líder do PMDB tem como irmão Rodrigo Lemos Barros Quintão, sócio-administrador da empresa Minero-Metalurgia Sabinopolis LTDa. Ele é alvo inclusive de pedido de substituição da relatoria ingressado pelo líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Chico Alencar (RJ).
Na tentativa de reverter a decisão, Picciani começou a recolher assinaturas de deputados do partido, incluindo signatários do documento que o destituiu.Em outra frente, o Planalto mobilizou ministros peemedebistas e líderes governistas para buscar reverter assinaturas no PMDB.
De acordo com relatos, ministros do partido, como Kátia Abreu (Agricultura) e Marcelo Castro (Saúde), telefonaram para membros da bancada. Segundo aFolha apurou, pelo menos três peemedebistas foram procurados por parlamentares governistas. A tentativa, no entanto, não teve êxito.
Os deputados favoráveis ao impeachment queixaram-se com Temer do assédio do Planalto. "Se o governo continuar a colocar suas digitais nesse processo, vamos pressionar a Executiva Nacional a antecipar a convenção nacional para discutir o rompimento com o governo", ameaçou Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, aliado de Temer e defensor do impeachment.
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