sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Temer ameaça retirar apoio do PMDB a Dilma

• Vice avisou que partido poderá antecipar convenção e rompimento

Na conversa de anteontem, a primeira após vazamento da carta à presidente, peemedebista deixou claro que não trabalhará contra nem a favor do impeachment ; ontem ela exonerou da CEF um aliado do presidente da Câmara

Depois da crise provocada pela carta do vice Michel Temer, a conversa entre ele e a presidente Dilma, anteontem, foi amistosa só nos relatos oficiais. Dilma ouviu explícita ameaça de rompimento do PMDB com o governo. Em meio à guerra do impeachment, o vice advertiu que a convenção do PMDB será antecipada, caso Dilma se intrometa em assuntos do partido. Ela, porém, trabalhou ontem para que Leonardo Picciani retome a liderança do PMDB.

Rompimento à vista

• Temer pede a Dilma que não interfira no PMDB, mas presidente ignora e atua por Picciani

Jorge Bastos Moreno, Catarina Alencastro Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- Na conversa entre Michel Temer e a presidente Dilma Rousseff, na noite de quarta-feira no Palácio do Planalto, o vice-presidente advertiu o governo a não se intrometer em assuntos domésticos de seu partido, o PMDB, principalmente tentando recolocar Leonardo Picciani (RJ) no cargo de líder da bancada da Câmara, do qual foi destituído na última quarta-feira. Ontem, no entanto, Dilma já desconsiderou a sugestão de Temer e operou para reverter o afastamento de Picciani.

— Isso pode acirrar os ânimos no partido, provocando inclusive a antecipação da convenção que vai decidir sobre a continuidade do apoio ao governo. E essa antecipação não é boa para o governo — disse Temer à presidente.

Só que, menos de 24 horas depois, a presidente e o vice voltaram a se confrontar, desta vez não publicamente, mas através de uma intensa guerra nos bastidores. Ignorando a advertência de Temer, Dilma continuou interferindo nas questões internas do PMDB. De Buenos Aires, onde estava para a posse do presidente argentino Mauricio Macri, ela ligou para o ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, do PR, pedindo que ele concordasse em ceder um deputado de seu partido para o PMDB como forma de tentar restituir a liderança do partido a Leonardo Picciani. A ligação de Dilma a Rodrigues foi confirmada ao GLOBO por pessoas próximas ao ministro.

Desde que Picciani foi destituído do cargo por ter se tornado leal ao governo, o Planalto tem operado para mudar votos de deputados. Até governadores estão sendo acionados, para chamarem deputados anti-Picciani para o comando de secretarias estaduais, abrindo vaga na Câmara a peemedebistas mais ligados a Dilma.

Em contrapartida, o vice, ao tomar conhecimento do telefonema de Dilma a Rodrigues, determinou imediatamente, como adiantou Lauro Jardim em seu blog no GLOBO, a impugnação da filiação de todo e qualquer parlamentar que tente ingressar no PMDB como reforço para Picciani retornar à liderança.

Há exatamente uma semana, no encontro de 20 minutos que suscitou uma série de versões que contrariaram o vice, Temer havia sugerido a Dilma que ela assumisse uma “postura institucional” na defesa de seu mandato, evitando polarizar com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Dilma também fez o contrário, intensificando suas críticas ao fato de Cunha estar sendo acusado de ter conta na Suíça. 

Vice defende "reunificação" do País  
 Ontem à tarde, ao participar de um evento com empresários em Porto Alegre, Temer defendeu a “reunificação” do país:

— Se quisermos fazer o país prosperar, precisamos reunificá-lo, conversar com todos os movimentos sociais, com todos os partidos políticos.

Na noite de quarta-feira, Temer tentou se esquivar de perguntas de correligionários sobre a conversa com a presidente. Depois da reunião no Planalto, ele foi a um jantar de confraternização na casa do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Acabou falando a alguns senadores estar se sentindo “desconfortável” com a situação e que “não era para ter acontecido o que aconteceu”, referindo-se ao vazamento da carta que enviou a Dilma.

Antes de chegar ao jantar na casa de Eunício, Temer se encontrou com aliados no Palácio do Jaburu e disse ter estranhado a manifestação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de que ele não consultara o partido para enviar a carta a Dilma.

— Como eu poderia consultar o partido sobre uma carta pessoal, que fiz questão de chamar de desabafo? Foi uma comunicação direta entre o vicepresidente e a presidente da República — disse Temer a um aliado.

Na conversa com Dilma, Temer afirmou que não pretende tomar posição sobre o impeachment porque o PMDB, está dividido em relação à questão. O vice, porém, diz que o movimento da ala pró-impeachment do PMDB tem que ser entendido como natural e decorrente do esgarçamento das relações entre o PT e o PMDB. Um senador peemedebista, que conversou com o vice no jantar, relatou que a relação de confiança mínima que existia entre Dilma e Temer se quebrou.

— É preciso manter a relação institucional até o fim do governo. Mas nada além disso. Não há o que cole o que foi quebrado — disse.

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