• A crise política, turbinada pelo impeachment e pela desfaçatez de Cunha, monopoliza as atenções, mas não se pode esquecer da degradação do quadro econômico
A aceitação de um pedido de impeachment de Dilma por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sob investigação por corrupção e que usa poderes da presidência da Câmara para sabotar da forma mais vil o julgamento do seu caso no Conselho de Ética da Casa, é uma situação tão anômala que tem dado a impressão de que só existe a crise política.
Impressão falsa, pois a vida e o tempo não param. Enquanto deputados pró e contra Cunha se estapeiam no Conselho de Ética, oposicionistas e petistas/aliados trocam empurrões no plenário da Câmara, e há incontáveis negociações, republicanas ou não, em torno do impeachment, a economia continua em queda livre. PIB cai, desemprego sobe, inflação não cede. São ingredientes de um inferno econômico. Mesmo porque o Congresso, já lento na aprovação de medidas do ajuste, e ainda assim periféricas, parou de vez. Isso piora as expectativas, já ruins, com relação ao país.
Tem a ver com este quadro a decisão anunciada quarta-feira pela Moody’s, uma das três maiores agências internacionais de avaliação de risco, de colocar com viés de baixa a nota do Brasil.
Em agosto, a Moody’s já havia situado a economia brasileira no último nível do “grau de investimento” (baixo risco), um anterior à faixa de alto risco (junk, lixo). A agência tem agora 90 dias para definir o que fará. As perspectivas são pessimistas. O selo de bom pagador já foi perdido pelo Brasil junto à Standard&Poor’s (S&P). Das três maiores agências falta a Fitch atualizar a avaliação do Brasil, ainda bem cotado por ela. A economia teria de voltar a acumular superávits primários apresentáveis (2% ou mais) para se livrar de rebaixamentos. Não é possível. Se ocorrer, será o verdadeiro milagre brasileiro.
Para completar a “tempestade perfeita”, pode ser que o banco central americano (Fed) afinal suba os juros na reunião da semana que vem. É provável que tudo já esteja precificado nas desvalorizações do real nos últimos tempos. Mas aguardemos. Enquanto a política trava e o governo empaca na incapacidade de formular um efetivo ajuste, que ataque pontos nevrálgicos da crise fiscal, ele precisa, ainda, incluir nas estatísticas oficiais as “pedaladas” escondidas pelas técnicas da “contabilidade criativa” do secretário do Tesouro Arno Augustin, com a cumplicidade do ministro Guido Mantega e da própria presidente.
Em bases anuais, o déficit público total se mantém nas alturas dos 9% do PIB, a caminho da falência do Estado. O PIB deve encolher este ano não menos que 3%. Um dos reflexos é o desemprego: no terceiro trimestre, de acordo com o IBGE, a taxa foi de 8,9%, e continua em alta. Apenas em outubro, foram destruídos 170 mil empregos formais. Em 12 meses, 1,5 milhão.
A inflação, por sua vez, ultrapassou os dois dígitos em novembro (10,48%), em base anualizada, o mais elevado índice desde fins de 2003. Tudo vai ganhando ares de catástrofe econômica. Paralelamente, governo e Congresso, alheios, se engalfinham no octógono do impeachment.
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