Mariana Haubert, Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - As reações de deputados e senadores pelos salões da Câmara e do Senado após a deflagração do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff mostraram a divergência entre os dois lados. Enquanto governistas classificaram a decisão como uma chantagem e uma retaliação feita pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), contra o governo, oposicionistas aplaudiram a decisão, disseram que ela é legítima e esperada.
"É uma chantagem ao estado democrático de Direito. Isso está claro", disse o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE). Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), Cunha tomou a decisão para retaliar o governo por ter perdido o apoio do PT no Conselho de Ética, colegiado que analisa um processo de cassação contra ele.
"Parece que havia uma tentativa de que o PT viesse a proteger quem quer que seja e aí acho que a decisão da bancada elimina essa pressão que havia. Cada cidadão brasileiro tem condição de avaliar. Acho que foi uma retaliação e acho que é algo muito pequeno para alguém que tem um cargo tão relevante para o país", disse.
O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC) criticou a decisão de Eduardo Cunha e afirmou que o PT "está pronto para a guerra". "E nós vamos disputar essa guerra no voto".
Já o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, principal partido de oposição ao governo, afirmou que o processo de impeachment é legítimo e não pode ser classificado como uma tentativa de golpe.
"Temos denunciado as ilegalidades do governo, as ilegalidades cometidas na campanha eleitoral, as irresponsabilidades cometidas até mesmo hoje aqui ao alterar a 25 dias do final do ano a meta fiscal proposta por ele [governo] próprio esse ano. Nós apoiamos a proposta do impeachment para que ele tramite normalmente aqui. Isso não é golpe. Estou falando de algo que está previsto na Constituição. Não posso antecipar resultados mas o nosso sentimento é de que esse tema será debatido no Congresso Nacional com os olhos na sociedade", disse.
Para Aécio, Dilma cometeu crime de responsabilidade. "Há algo que precisa ser resolvido no país. Podemos dar salvo conduto à presidente pela importância do cargo para que ela continue cometendo os crimes de responsabilidades fiscais ou eventualmente crimes eleitorais, ou no Brasil a lei é para todos? É essa questão que estará em julgamento no Congresso Nacional", completou.
Para o tucano, o fato de Cunha ter deflagrado o processo no mesmo dia em que deputados do PT decidiram não apoiar Cunha no Conselho de Ética não deslegitima o processo.
"Quanto às motivações, obviamente caberá a ele [Cunha] externá-las. Nós do PSDB estamos absolutamente serenos com o nosso comportamento em todo esse processo", disse.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), avaliou que o processo reforça o papel institucional do Congresso. Para ele, após a instalação do processo, o cenário político e econômico do país deve melhorar.
"Uma vez autorizado a comissão e o encaminhamento da votação ao plenário da Câmara teremos um momento extremamente alentador. Estamos devolvendo à Câmara a prerrogativa de investigar a presidente. As pessoas vão acreditar na segurança jurídica, na perspectiva de um plano de governo, na escolha de ministros capacitados e em uma unidade política capaz de reerguer país dessa crise", afirmou.
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