• Petistas anunciam recurso ao STF, acusam Cunha de golpe e dizem que PSDB se escondeu por trás de Bicudo
- O Globo
-BRASÍLIA e SÃO PAULO- O PT reagiu à decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de acolher processo de impeachment anunciando que o partido está “preparado para a guerra”. Parlamentares prometeram uma ofensiva no Congresso e um recurso judicial ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), falou na guerra a ser travada a partir de agora, e o deputado Wadih Damous (PT-RJ) explicou como será o recurso ao STF.
Sibá culpou o PSDB pelo fato de o tema ter entrado na agenda. Acusou os tucanos de terem se escondido de forma covarde atrás do jurista Hélio Bicudo, autor do pedido aceito por Cunha.
— Vamos para a guerra! Esperamos discutir no voto. Depois de uma eleição com o nível mais baixo que já tivemos, o PSDB agora macula a História do Brasil ao não aceitar uma derrota eleitoral — disse o líder do PT.
Sibá se negou a fazer comentários sobre a situação de Cunha no Conselho de Ética, dizendo que não quer misturar os assuntos. O presidente do PT, Rui Falcão, acusou a oposição de tentar um golpe. “Golpistas não passarão. Não vai ter golpe. Dilma fica”, escreveu Falcão.
Já o deputado Damous alegou que liminares concedidas anteriormente pelo STF impediam Cunha de tomar qualquer decisão sobre o tema.
— Vamos ao STF porque não há um rito suficientemente definido para promover o impeachment, devido às liminares do Supremo. Então, nenhum processo pode tramitar enquanto esse rito não estiver definido — disse.
Autor do mandado de segurança que barrou o rito anterior criado por Cunha, Damous acompanhou a entrevista coletiva em que Cunha anunciou a abertura do processo de impeachment, ao lado de Paulo Pimenta (PT-RS). Para eles, a medida é retaliação ao fato de o PT apoiar a continuidade do processo de cassação contra Cunha no Conselho de Ética.
— Vamos questionar do ponto de vista jurídico qual a legitimidade dele para tocar esse processo — disse Pimenta.
Os petistas esperam ainda que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, peça ao STF o afastamento de Cunha do comando da Câmara.
— Esperamos que ele (Janot) esteja atento a esta atitude de retaliação. Já há elementos para que se peça o afastamento cautelar — afirmou Damous.
Logo depois de Cunha anunciar no Salão Verde da Câmara que considerava procedente o pedido de impeachment dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior, Pimenta e Damous fizeram questão de usar o mesmo púlpito para classificar a atitude de “revanchismo e golpe”, e anunciar que o partido reagirá no Congresso e também via STF contra o que consideram abuso de poder. Segundo Pimenta, a atitude põe às claras para a população a chantagem que está sendo feita por ele não só em relação ao impeachment, mas também em votações na Casa.
— Tenho absoluta convicção de que é uma atitude de revanchismo diante da decisão do PT de votar pela admissibilidade do processo contra ele no Conselho de Ética. Esse é o ponto culminante de um processo que não é só de chantagem com o governo, mas com o país. Não aceitaremos, é golpe. E Cunha não tem legitimidade para um ato desse que encaramos como afronta à Constituição.
O anúncio da decisão dos petistas de votar contra Cunha no Conselho de Ética que deflagrou a decisão do presidente da Câmara ocorreu pouco antes das 14h. Depois de uma ampla reunião, a maioria apontou que estava na hora de dar um basta ao que considerava chantagem por parte de Cunha. A forma como se deu todo o processo que culminou com a ruptura, no entanto, demonstrou mais uma vez que governo, partido e parlamentares do PT circulavam em órbitas próprias.
No dia anterior, a divulgação de uma nota do presidente da legenda, Rui Falcão, anunciando que os três representantes da sigla no conselho deveriam votar contra Cunha pegou os próprios, o governo e a bancada de surpresa. Na manhã de ontem, de acordo com aliados de Cunha, o Planalto garantia que ele teria os três votos para que fosse poupado.
Mas os petistas resolveram que não dava mais para aguentar a pressão de Cunha, definida por Zé Geraldo (PA), um dos integrantes do Conselho, como dono de metralhadora apontada contra o governo e o partido. Esse grupo, integrado por mais de 30 parlamentares, dizia que era preciso preservar o partido.
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