- O Estado de S. Paulo
Se alguma bomba H não explodir antes, o prognóstico para o Brasil em 2016 é de mais sangria da economia pela política. Como um vampiro suga suas vítimas, o sistema partidário e eleitoral abriu as veias do País para drenar até a última gota. Apocalipse à parte, não há perspectiva de que se lhe desgrude os caninos. Ao menos não antes de março, numa previsão otimista.
Agora é o recesso, depois é o carnaval. Daí irão e virão recursos e embargos ao Supremo Tribunal Federal sobre o rito do impeachment de Dilma Rousseff. Prazos, instâncias, quóruns, tudo será motivo para questionamentos e pedidos de esclarecimento. Julho é mês de recesso. Agosto tem Olimpíada. Em setembro e outubro haverá eleição - fora os 14 feriados e pontos facultativos já oficializados para Brasília. Fim de 2016.
Sobra uma janela estreita, entre abril e junho, para um lado sobrepujar o outro - ou fecharem um acordo entre si. Mesmo sendo incerto fazer projeções para daqui a quatro meses, é provável que os arsenais de antis e prós continuem se equivalendo. Nesse cenário, não há vencedores. Segue o bombardeio intermitente, com vítimas aqui e acolá, a provocar tanta fumaça que turva toda previsão econômica e futiliza quaisquer planos de investimento.
Mesmo que um grupo prepondere, será um sanguessuga por outro. Sem uma disrupção no sistema político é cada vez mais improvável que o Brasil supere o “stop and go” econômico - com paradas progressivamente mais longas em relação aos períodos de avanço.
Na política brasileira atual, manda quem doa, obedece quem recebe. O dinheiro é o principal vetor de qualquer eleição, rivalizando em influência apenas com a inércia eleitoral (já estar no poder ou ser herdeiro de quem lá está).
Raros candidatos se elegem graças à militância espontânea. Na Câmara dos Deputados, os paradigmas da exceção são a família Bolsonaro e Jean Willys - dois extremos da trena ideológica. Recebem muitos votos por poucos reais, relativamente aos colegas. Seus cabos eleitorais podem ser gratuitos, mas não são desinteressados. Willys e Bolsonaros têm agendas que vão ao encontro estrito do que pretendem seus eleitores. É do jogo.
Mais congressistas representassem lobbies explícitos, mais transparente seria a disputa. Mas a maioria é uma mão-de-voto maleável e dependente dos recursos que a elegem - sejam o dinheiro, a inércia ou a combinação dos dois.
Quem não é sócio do clube do poder tem que pagar uma joia para entrar. Sua eleição tende a custar bem mais caro do que a dos incumbentes e parentes. Mas mesmo quem já é associado tem que arcar com seus estipêndios. Se não existe nem almoço grátis, quanto menos eleição. Daí ganharem força dentro dos partidos aqueles capazes de alavancar doações eleitorais não apenas para si, mas também para os colegas. E não é pelo seu charme.
Doações começam com cargos. Podem ser diretorias de estatais, cadeiras de ministro, presidências ou lideranças partidárias. Qualquer posição que permita criar dificuldades, oferecer facilidades ou ambos. Nesse sistema, o indivíduo só é poderoso quando vira uma organização. Representando múltiplos interesses, adquire resiliência no poder. Vale para partidos e políticos.
Tornam-se duros na queda os que não se lambuzam sozinhos. Ficam de pé aqueles que são generosos ao distribuir fatias de poder e zelosos ao guardar os registros da distribuição. Os resilientes montaram redes de financiamento baseadas em empresas e pessoas físicas cujos negócios dependem do governo. Dão, recebem, distribuem - há décadas. Quanto maior, mais resiliente é a rede. Se uma parte é lavada a jato, outras ocupam seu espaço.
O sistema tem tanta resiliência que, como as baratas, talvez escapasse até de uma hecatombe nuclear. Melhor não testar.
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