• Secretário do partido conta ter sido sondado para Aviação Civil e diz que teve consentimento de Temer
Júnia Gama, Leticia Fernandes e Washington Luiz - O Globo
-BRASÍLIA- Com o esvaziamento do processo de impeachment no Congresso, parte da bancada mineira do PMDB, que atuou pela destituição de Leonardo Picciani (PMDB-RJ) da liderança do partido no ano passado, passou a trabalhar para compor com o governo e ocupar um lugar na Esplanada dos Ministérios, com a Secretaria de Aviação Civil. Na noite de ontem, o deputado Mauro Lopes, cotado para a Secretaria de Aviação Civil, procurou o vice-presidente Michel Temer para conversar sobre a aceitação da pasta. Mauro Lopes demonstrou interesse em assumir o posto antes ocupado por Eliseu Padilha (PMDBRS), do grupo do vice-presidente. Segundo o deputado, Temer deu seu consentimento:
— Não fui convidado, não. Fui sondado por ministros, pessoas da Presidência da República. Eu sou governo. Nós somos governo e nós temos que ajudar a governar este país. Eu perguntei ao Michel, ele falou: “Mauro, terá todo o meu apoio” — disse o deputado, ao sair do encontro com Temer.
Segundo participantes do encontro, ao mesmo tempo em que buscou apoio, Lopes ofereceu suporte do diretório de Minas Gerais à reeleição de Temer à presidência nacional do PMDB na convenção do partido, marcada para março.
A escolha de Mauro Lopes é uma tentativa do Palácio do Planalto de melhorar o clima na bancada peemedebista e formar maioria mais sólida contra o impeachment. O deputado ressaltou várias vezes que ainda não foi convidado para ser ministro, mas que aceitaria a proposta. — Aceitaria tranquilamente. O ministério foi ocupado por Padilha até a deflagração do impeachment na Câmara, quando o então ministro decidiu deixar o cargo. Mauro Lopes é secretário-geral do PMDB e pretende manter este espaço na chapa com Temer. Perguntado se a saída do PMDB da base aliada inviabilizaria sua permanência no ministério, Lopes defendeu que o partido não deixe de apoiar o governo.
— O PMDB não sai do governo. Nós temos responsabilidade com o país — afirmou.
O deputado redigiu uma carta do PMDB com Temer que será encaminhada para os diretórios estaduais. A intenção é preparar o terreno para as viagens que o vice-presidente fará pelo país antes da convenção de março. De acordo com Lopes, o peemedebista visitará todos os estados para unificar e fortalecer o partido tendo em vista as eleições municipais.
Aliados de Temer admitem que o clima para o impeachment arrefeceu
consideravelmente e que, hoje, é improvável que o processo triunfe. Segundo analisam, os componentes políticos e jurídicos não decolaram, mesmo com a grave crise econômica e as falhas na articulação do governo. O foco do entorno do vice, neste momento, é trabalhar pela sua recondução à presidência do partido, cargo considerado fundamental para manter sua esfera de poder no PMDB e nacionalmente até 2018, quando a legenda pretende lançar candidatura própria à Presidência.
O grupo de Temer não quer ingerência do Planalto nas disputas internas do partido, tanto no caso da presidência do PMDB, quanto na liderança da legenda na Câmara. Aliados do vice alertaram que qualquer ação do Planalto para ajudar uma eventual candidatura do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à presidência do partido pode azedar de vez a relação.
Depois de participar, junto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), das articulações para destituir Picciani do posto no fim de dezembro, Temer resolveu se afastar das tratativas do Congresso e centrar esforços em sua reeleição para a presidência do PMDB. O movimento gerou troca de farpas entre o vice-presidente e Picciani, que disse ontem ser “desnecessária” a interferência de Temer na disputa pela liderança do partido na Câmara.
— Esse tema está sendo tratado no interior da bancada, de modo que eu, particularmente, acho que é desnecessária a presença do presidente do partido e vice-presidente da República na disputa interna da bancada — disse o líder do PMDB.
Picciani se reuniu ontem com deputados para tentar definir o rito para a eleição da liderança da legenda, que acontecerá em fevereiro e terá ao menos dois candidatos — o atual líder e o deputado Leonardo Quintão (MG), que assumiu o posto por uma semana em dezembro e afirma que será candidato “de qualquer jeito”. Alguns deputados avaliam que ele se enfraqueceu ao “queimar a largada” e se antecipar às eleições.
Quintão afirmou que mesmo que a bancada mineira ganhe a Secretaria de Aviação Civil, ele será candidato:
— Isso não irá interferir na minha posição de ser candidato. Não tem acordo nenhum — disse o parlamentar.
Depois da reunião, peemedebistas avaliaram que o assunto impeachment não tem mais o impacto do fim do ano passado na eleição interna da legenda, já que Temer agora se voltou para a eleição nacional do PMDB, e Eduardo Cunha está fragilizado com a possibilidade de ser afastado do cargo pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
— Impeachment é um tema que tensiona a Casa como um todo, mas não é essencial para a eleição da liderança. O impeachment não teve a adesão da população, que desconfia se essa é a melhor solução, houve o estabelecimento do rito, que ficou claro, então creio que esse tema do impeachment influi menos na questão — disse Picciani.
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