quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Cerveró: Collor disse ter aval de Dilma para controlar cargos

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse ter ouvido do ex-presidente Fernando Collor, na Casa da Dinda, que a presidente Dilma Rousseff pôs à sua disposição o comando da BR Distribuidora, subsidiária da estatal. Cerveró também relatou três encontros com o presidente do Senado, Renan Calheiros, para tratar do pagamento de propina.

Cerveró: Collor disse ter aval de Dilma para nomear diretoria da BR

• Delator diz que manteve cargo para não atrapalhar negócios do senador

Eduardo Bresciani, André Souza - O Globo

-BRASÍLIA- O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou em depoimento ter ouvido de Fernando Collor de Mello (PTB-AL) em uma reunião na Casa da Dinda, em 2013, que a presidente Dilma Rousseff colocou à disposição do senador a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora. Cerveró foi diretor financeiro da BR entre 2008 e 2014.

Cerveró disse que foi chamado por Pedro Paulo Leoni Ramos para a reunião em Brasília, que teria ocorrido “entre agosto e setembro de 2013”. Leoni Ramos foi ex-ministro de Collor e é apontado pela investigação como operador no recebimento de propina. De acordo com Cerveró, Collor lhe disse que “foi obrigado a pedir a demissão” de José Zonis e Luis Cláudio Caseira Sanches. Os dois ex-diretores sofreram pressões dentro da BR Distribuidora por terem parado de repassar propina, segundo Cerveró. Foi nesse contexto que o senador teria lhe falado sobre a conversa com Dilma.

“Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a presidente da República, Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor de Mello a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora”, registra trecho do depoimento.

Agradecimento irônico
Cerveró contou que agradeceu de forma irônica por ter sido mantido no cargo. Disse que, depois, Leoni Ramos relatou que Collor havia ficado chateado com sua ironia. Para Collor, ficou parecendo que Cerveró estava duvidando de que ele tivesse mesmo falado com Dilma sobre as indicações para a BR.

Cerveró afirmou que, a partir dessa reunião, percebeu que Collor “realmente tinha o controle” da BR Distribuidora. O ex-diretor afirmou na delação premiada que entendeu ter sido mantido no cargo para não atrapalhar os negócios de Collor e Leoni Ramos, “principalmente a base de distribuição de combustíveis de Rondonópolis (MT) e o armazém de produtos químicos de Macaé (RJ)”.

O ex-diretor relatou ainda uma outra reunião com Collor, em 2010, que teve a presença de toda a diretoria da BR e do usineiro alagoano João Lyra, ex-deputado federal. Segundo Cerveró, a realização do encontro foi uma sugestão do então presidente Lula. Collor queria que a BR comprasse antecipadamente a safra, no valor de R$ 1 bilhão, adquirindo álcool de usinas de Alagoas, pois o estado tinha sofrido muitos prejuízos com enchentes.

Cerveró disse “que na prática tratava-se de uma concessão de crédito às usinas”. Segundo ele, Collor relatou ter levado Lula a Alagoas e disse que o petista tinha ficado “chocado” com a crise do setor. Collor justificou a presença de Lyra, como “exemplo de usineiro alagoano altruísta que estava ajudando na recuperação dos prejuízos”.

Mas o pedido não foi atendido, porque, segundo Cerveró, havia uma norma da BR Distribuidora proibindo a compra antecipada de safra. Além disso, não havia disponibilidade financeira para o negócio. Segundo Cerveró, uma usina de Lyra conseguiu um empréstimo de R$ 50 milhões com o Banco do Brasil. Mas o BB nega ter realizado tal operação.

Esvaziamento de CPI
O advogado Rogério Marcolini, que defendeu Collor, afirma que são falsas as alegações de que o senador tenha usado influência política para “obter favores” ou exercer pressão sobre a BR Distribuidora.

Cerveró disse também que José Eduardo Dutra, já falecido, deixou a presidência da BR Distribuidora em 2009 para articular o esvaziamento de uma CPI da Petrobras no Congresso. Dutra foi substituído por José de Lima Andrade Neto com apoio de PT, PMDB e PTB.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tratou como propina ao senador Fernando Collor um repasse de R$ 300 mil feito pela empresa Laginha Agro Industrial, de João Lyra, ao jornal “Gazeta de Alagoas", de propriedade do ex-presidente. A afirmação foi feita por Janot em trecho da denúncia contra o deputado Vander Loubet (PT-MS). A transferência aparece em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ).

“No caso, existem inclusive fortes indícios do pagamento de propina; de forma disfarçada, em favor do Senador Fernando Affonso Collor de Mello”, diz a denúncia. O diretor-executivo da “Gazeta de Alagoas”, Luís Amorim, afirmou que “todos os créditos recebidos pela empresa Gazeta de Alagoas referem-se a atividades comerciais”.

O advogado de Collor, Rogério Marcolini, afirma que tem havido divulgação “parcial e seletiva” de trechos de “supostas declarações prestadas por Cerveró”. Ressalta que a defesa não teve acesso aos termos da delação, mas afirma que o senador refuta as acusações.

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