Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende – Valor Econômico
BRASÍLIA - Agravado pela delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo, o clima na Câmara dos Deputados às vésperas do protesto pela saída da presidente Dilma Rousseff é de desânimo entre os governistas. Parlamentares da base antes refratários ao impeachment já começam a falar pelos corredores que a crise só terá solução com um novo governo - Dilma, dizem, já se mostrou incapaz de retomar a economia.
"Achávamos que o ano começaria melhor depois de um 2015 conflagrado. Tinha sinais disso, com a troca do ministro da Fazenda, o PSDB sinalizando que poderia dialogar. Mas o governo não consegue sair da agenda da Lava-Jato e o PT praticamente abandonou a Dilma", afirma o líder de um dos principais partidos aliados. "O país não aguenta mais três anos disso."
A maioria dos deputados da base ouvidos pelo Valor esta semana defende que não há indicativo de crime de responsabilidade e que as pedaladas fiscais são um argumento frágil. Mas já consideram nos bastidores um "impeachment político", algo até então restrito as conversas da oposição os "independentes".
"Só tem três soluções para a crise: a cassação da chapa no TSE [Tribunal Superior Eleitoral], a improvável renúncia da Dilma ou um acordo de união nacional em torno do PMDB", diz um aliado. "Acho que o rompimento institucional é complicado, mas não vejo mais chances deste governo conseguir dar respostas para a população e para a economia."
Embora as conversas estejam restritas aos corredores, dois aliados de primeira hora do governo já falaram em público sobre a possibilidade de fim do governo. Líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) disse, em encontros com representantes do mercado financeiro, que os protestos de domingo podem encurtar substancialmente a permanência de Dilma.
Em audiência pública na Câmara na terça-feira, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), defendeu que o país precisa de união e que "toparia" novas eleições presidenciais caso isso desse força para um governo solucionar a crise - o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) apresentou proposta de emenda constitucional (PEC) com este objetivo.
Os ânimos da base foram expostos no mesmo dia quando, depois de reunião no Palácio do Planalto para traçar a estratégia da semana, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), chamou todos os líderes aliados para uma entrevista coletiva com o objetivo de defender Dilma. Apenas o do PT apareceu.
"Não vou votar contra o governo, mas também não vou à tribuna defender o PT e criticar a Lava-Jato", justificou um dos ausentes. "Não tenho nem o que discursar, parece que a única agenda do governo para sair da crise é aprovar a CPMF", reclamou.
A aliados, Guimarães mostrava desânimo essa semana e reclamava que era muito difícil liderar um governo sem base e tão desgastado no Congresso.
Sem projetos de seu interesse em pauta, o governo tentou obstruir as votações na Câmara com medo de que a oposição aprovasse a mudança no indexador da dívida de Estados com a União, ao custo de R$ 300 bilhões, ou a PEC que aumenta a vinculação de recursos para a saúde - que o PT resolveu apoiar contra o desejo do Planalto.
Por enquanto há duas certezas na base e na oposição: o governo ainda tem votos suficientes para barrar o impeachment, algo em torno de 190 dos 170 necessários, mas os protestos de domingo serão decisivos. Uma adesão em massa repercutirá no Congresso - assim como uma possível falta de apoio nas ruas dará mais algum fôlego ao governo.
Os movimentos do PMDB do Senado, que se recompôs com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e está cada vez mais próximo de uma agenda conjunta com o PSDB, também são olhados com atenção porque o STF decidiu que caberá aos senadores a decisão de afastar Dilma - não bastará a Câmara aprovar a abertura do processo. "Como o voto é aberto, tem muito deputado que só votará a favor do impeachment se souber que o Senado dará prosseguimento", comenta um parlamentar do PDT.
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