Por Thiago Resende, Raphael Di Cunto e Vandson Lima - Valor Econômico
BRASÍLIA - O recrudescimento da crise política do governo elevou a tensão no PMDB, cuja ala oposicionista cresceu nas últimas semanas. Em reunião com o presidente da sigla, o vice-presidente da República, Michel Temer, parlamentares aliados ao Palácio do Planalto reportaram que a maioria dos delegados de Estados que apoiariam a permanência da legenda no governo, como Minas Gerais, tenderiam a votar pelo desembarque.
O clima no partido é de rompimento. Integrantes das facções a favor e contra o governo avaliam que a aprovação de uma moção pela independência do PMDB pode ser inevitável a depender do clima da convenção nacional do partido, marcada para amanhã e que reelegerá a executiva da sigla. Mas a ala governista argumenta que não é possível votar qualquer mudança de postura no encontro, cujo edital prevê apenas a eleição da cúpula da legenda.
Há apenas uma chapa, depois de acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que desistiu de lançar candidatura concorrente à Temer. Até ontem, estava em estudo Renan ficar com a primeira vice-presidência do PMDB, hoje com o senador Valdir Raupp (RO). Mas o senador Romero Jucá (RR) também pode ficar com o cargo.
A convenção será comandada por Temer. Segundo aliados, ele vai tentar evitar tensões com o Planalto. "Por gravidade o governo vai cair. Não se sustenta mais. O PMDB não precisa fazer nada. O governo está acabando", disse um parlamentar que conversou com o presidente da sigla ontem.
A saída da independência seria uma forma de liberar os parlamentares a se posicionarem sobre o tema do impeachment de acordo com convicções próprias.
O Valor apurou que a tendência, porém, é Temer atender à pressão da crescente ala oposicionista e convocar nova convenção apenas para tratar da relação com o Planalto.
Pemedebistas vão tentar oficializar no encontro a divulgação de uma carta representando um distanciamento do governo. "Um documento sobre a conjuntura do país, mas não pregando o rompimento nem a defesa do governo", informou uma liderança da sigla.
Sulistas, que majoritariamente defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, já divulgaram um texto no começo da semana propondo o afastamento. Assinada por quatro Estados - Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul - a carta sugere o desembarque o governo e "construir unidade em torno do vice-presidente Michel Temer e da direção nacional do partido".
Esses Estados representam 156 dos 655 votos na convenção. Só que o movimento tem adeptos em outros também. Minas e Rio de Janeiro eram citados pelos mais alinhados ao Planalto como base da manutenção do PMDB no governo. Mas, segundo relatos, mais da metade dos 54 votos mineiros tendem a opinar pelo rompimento. "São empresários que estão tendo que demitir por causa da crise econômica", explicou um parlamentar.
No Congresso Nacional, a bancada pemedebista na Câmara reelegeu, no mês passado, Leonardo Picciani (RJ) à liderança. Foi uma vitória do Palácio do Planalto já que Hugo Motta (PB), apoiado pela facção oposicionista, foi derrotado. Contudo, até deputados que fizeram campanha a Picciani hoje dizem que o "quadro se deteriorou" e o PMDB avança no sentido de rompimento com o governo.
A bancada pemedebista do Senado, mais ligada ao Planalto, também começou a dar sinais de distanciamento. A instabilidade política do governo se agravou com a delação premiada do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), citando Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde então, Temer cancelou a agenda de viagens pelo país em campanha pela reeleição da executiva. Na caravana, pregaram que o PMDB é o "partido da governabilidade, mas se prepara para ser governo em 2018", em referência à candidatura própria à Presidência da República. Um dos principais pemedebistas na Câmara acredita que "a convenção vai aguardar os desdobramentos apesar do ambiente estar conflagrado".
Ontem, Renan disse que a legenda tem o papel de "poder moderador, pilar da sustentação da democracia" e precisa sinalizar saídas para a crise, com responsabilidade para não agravar o cenário.
Desafeto do governo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defende, pelo menos, a independência da sigla. "Partido politico que não debate não é partido político. Estamos num momento em que o PMDB tem que decidir na sua instância apropriada, que é a convenção, a sua permanência ou não no governo, que tipo de relação quer ter". Para ele, se a decisão não for tomada agora, que seja convocada outra convenção. (Colaborou Andrea Jubé)
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