• ‘Convença Câmara e Senado a abrir mão de seus mandatos’, diz ela
Maria Lima, Cristiane Jungblut, Eduardo Barretto - O Globo
- BRASÍLIA- O debate em torno da proposta de convocação de eleições gerais provocou uma confusão entre os políticos ontem. O presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), defendeu a proposta, mas a oposição reagiu com irritação e disse que é tentativa de golpe para esvaziar o processo de impeachment em tramitação na Câmara. A exministra Marina Silva defendeu eleição presidencial, mas convocada pelo Tribunal Superior Eleitoral ( TSE).
Perguntada sobre a proposta, feita na véspera pelo senador Valdir Raupp (PMDB- RO), a presidente Dilma Rousseff reagiu com ironia, dizendo que os parlamentares terão de abrir mão de seus mandatos eletivos antes.
— Essa proposta, como várias outras, são propostas. Eu acho que é uma proposta. Convença a Câmara e o Senado a abrir mão de seus mandatos. Aí vem conversar comigo — respondeu Dilma, sem descartar a ideia.
Para a realização de eleições gerais, seria preciso aprovar uma emenda constitucional, o que daria tempo a Dilma. Marina e seu partido, a Rede Sustentabilidade, lançaram a campanha “Nem Dilma Nem Temer, Nova Eleição é a Solução”, que pede a cassação da chapa Dilma/ Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— A saída para a crise política e econômica é o TSE convocar nova eleição. Não serão sete ministros passando por cima do voto, serão sete ministros devolvendo a 200 milhões de brasileiros a possibilidade de reparar o erro que foram induzidos a cometer em meio a uma eleição fraudada — disse Marina.
Mais cedo, Renan disse que a proposta de uma eleição geral não pode ser descartada e deve ser uma alternativa.
— Vejo com bons olhos essa coisa da eleição geral. Acho que, se a política não arbitrar saídas para o Brasil, não podemos fechar nenhuma porta, deixar de discutir nenhuma alternativa, nem essa de eleição geral ou fazer uma revisão do sistema de governo e identificarmos o que há de melhor no parlamentarismo e no presidencialismo — disse Renan.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o novo presidente do PMDB, senador Romero Jucá ( RR), acusaram setores do governo de estarem inflando a tese das eleições gerais, não previstas na Constituição, para fragilizar a votação do impeachment. Aécio disse que essa “utopia” é a estratégia dos que não querem votar para aprovar o afastamento da presidente. Ele também cobrou uma posição clara de Marina sobre o impeachment.
— Eu e nem ninguém sabe qual é a posição da Marina sobre o impeachment, que é o que está em votação agora. Eu também prefiro a solução do TSE. Mas vamos ficar aguardando um ou dois anos por essa solução para termos novas eleições? O Brasil não aguenta. O momento é muito grave e as pessoas têm que se posicionar claramente contra ou a favor do impeachment — criticou Aécio.
Para Romero Jucá, a saída está na Constituição:
— Qualquer outra saída mirabolante, desculpem-me, aí sim é golpe, aí sim é golpe! Eleições gerais para todo mundo está na Constituição? Não. Todo mundo renunciar está na Constituição? Não. Traduzindo para a população: regra tem que ser cumprida. Para saber se a regra é cumprida não precisa ir ao Supremo não. Jucá fez comparação com o futebol:
— Pergunte ao Arnaldo Cezar Coelho: isso pode? Ele vai dizer: pode não! Porque, se pudesse mudar a regra, quando o Brasil estivesse perdendo de 7 a 1 da Alemanha, pararíamos o jogo e diríamos que estava cancelado e que amanhã começaríamos de novo com 0 a 0. Essa não é a saída que o país espera, não é essa a saída.
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