quarta-feira, 6 de abril de 2016

Resultado na comissão do impeachment ainda é incerto

• Oposição a Dilma, porém, está a apenas três votos de conseguir maioria

Levantamento feito pelo GLOBO mostra que 18 dos 65 integrantes do colegiado se dizem contrários ao afastamento da presidente; parecer do relator será lido hoje e votado na próxima segunda-feira

Levantamento feito pelo GLOBO com todos os 65 integrantes da comissão do impeachment mostra que é incerto o resultado da votação do relatório do deputado Jovair Arantes, que será apresentado hoje e apreciado na próxima segunda- feira. A oposição tem hoje 30 dos 33 votos necessários para a continuidade do processo contra a presidente Dilma. Os que se dizem indecisos são 17. E 18 deputados afirmam que votarão contra o impeachment. O panorama pode mudar, dependendo dos acontecimentos e do troca- troca de cargos por votos.

Disputa ainda incerta

• Oposição está a três votos de maioria na comissão, mas negociações podem mudar cenário

Isabel Braga, Maria Lima, Leticia Fernandes e Evandro Éboli - O Globo

- BRASÍLIA- A disputa é voto a voto na comissão do impeachment na Câmara, aponta levantamento do GLOBO com os 65 integrantes do colegiado, feito entre segunda- feira e ontem. A oposição reúne hoje 30 votos a favor do afastamento da presidente Dilma Rousseff e está a três de formar maioria. Precisa, para isso, ganhar adeptos entre os 17 deputados que se declararam indecisos. Outros 18 se manifestaram contra a continuidade do processo. O cenário, porém, é imprevisível, já que ainda faltam orientações partidárias, e posições vêm sendo alteradas com a atuação do governo sobre algumas legendas.

O relatório, que será votado segunda-feira, poderá recomendar o arquivamento ou a continuidade do processo de impeachment. O parecer aprovado pela comissão é uma orientação ao plenário. Seja qual for a decisão da comissão, ela terá de ser submetida à votação por todos os deputados. Ela, no entanto, é um importante termômetro para definição do impeachment na Câmara.

Entre os indecisos estão o presidente da comissão, Rogério Rosso ( PSD- DF), e o relator, Jovair Arantes ( PTB- GO). Embora os dois tenham se declarado dessa forma, parlamentares do governo e da oposição dão como certo seus votos a favor do impeachment.


Os deputados que declaram seus votos — a favor ou contra — informaram que estão convictos. Ou seja, não mudariam de lado. Entre os indecisos, alguns parlamentares citaram a defesa de Dilma feita pelo ministro da Advocacia- Geral da União ( AGU), José Eduardo Cardozo, anteontem na comissão, como importante e demonstraram uma tendência de votar contra o impeachment.

— A defesa de Cardozo deu a quem estava indeciso os elementos para tomar uma decisão e fazer a defesa de sua posição nas bases. Criou o ambiente. Disse que impeachment só em situações extremas. Qual a extrema gravidade das pedaladas, que dano terrível trouxe para a área social, para o cidadão? — disse Valtenir Pereira ( PMDB- MT), um dos indecisos.

Boa parte dos que se declaram favoráveis ao impeachment divulga suas opiniões diariamente, seja na comissão ou em discursos no plenário.

— Estou absolutamente convencido. O Cardozo está no papel dele, fez uma defesa apaixonada, mas não mudou um milímetro minha convicção sobre o impeachment. Sou a favor — disse o deputado Paulo Abi-Ackel ( PSDB- MG).

Deputados contrariam partidos
Do lado governista, a convicção é a mesma.

— A chance de eu mudar de opinião e votar a favor do impeachment é a mesma de eu me casar com a filha de Barack Obama. Sou dilmista e as minhas convicções são sólidas Podem me chamar de tudo, menos de traidor — afirmou Silvio Costa ( PTdoB- PE), vice líder do governo.

Fora do chamado núcleo duro do governo e da oposição, parlamentares de partidos com menor representação na Casa, como o PSOL e o PV, estão igualmente polarizados. O deputado Chico Alencar (PSOL- RJ) defende a rejeição do pedido de impeachment, sob o argumento de que não está caracterizada a prática do crime de responsabilidade no pedido dos juristas Miguel Reale Júnior, Janaina Paschoal e Hélio Bicudo.

— Acho que já formei meu juízo. Não há fundamentação jurídica. O que há é uma disputa pelo poder — avaliou Chico.

— Não mudo minha convicção. Já há os elementos político e jurídico para afastar a presidente Dilma. Temos que dispensar logo esse governo para começar outro de forma decente — defendeu o deputado Evair de Melo (PV-ES).

Alguns partidos ainda irão orientar como seus filiados devem se posicionar. Mas já há parlamentar se antecipando. Escolhido ontem para ocupar uma vaga em aberto de seu partido na comissão, Vicentinho Júnior (PR-TO) anunciou seu voto e disse que não muda:

— Sou contra o impeachment. E se o partido decidir o contrário, eu não vou seguir. Não vou desembarcar do governo no meio da tempestade. Vou pedir desculpas ao meu partido.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, confirmou seu voto contra o impeachment, apesar da pressão de seu partido e as declarações de seu pai, o presidente do partido no Rio, Jorge Picciani, pelo afastamento de Dilma.

— Voto contra este processo que está em análise. Difícil ( mudar de opinião) em relação a esse processo — afirmou Picciani.

Outro líder partidário, Aguinaldo Ribeiro ( PB), do PP, tentará convencer sua bancada a votar contra o impeachment. Ele foi ministro das Cidades do atual governo.

— Sou contra o impeachment, mas como líder vou encaminhar de acordo com a posição da minha bancada — afirmou Ribeiro, que terá dificuldade de convencer alguns correligionários, caso de Jerônimo Goergen (RS).

— Voto a favor do impeachment. Chance zero de mudar de opinião — disse Goergen.

Pedidos negados
Um dos mais ferrenhos opositores na comissão, Júlio Lopes ( PP- RJ) conta que ouviu pedidos de lideranças políticas para mudar de lado:

— Voto a favor do impeachment, nenhuma chance de mudar. O Lula ligou para o Pezão e pediu. O Pezão e o Dornelles (vice- governador do Rio) me pediram para votar contra. Em que pese a necessidade de apoio do governo federal, votarei a favor do impeachment até por entender que isso se refletirá em benefício do Rio porque o que sufoca a nação é a gestão Dilma.



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